Constelações III, origens mitológicas e modernas

07 de agosto de 2015



Como último capítulo da trilogia Constelações, este texto terá como base explicar as origens das constelações ocidentais e reconhecidas pela União Astrônoma Internacional – UAI.

A maioria de tais constelações tem suas origens no Almagesto de Ptolomeu, que, por sua vez, se baseou em antigos catálogos gregos e estes surgiram do imaginário popular, das lendas e mitos.

Quando estudamos o céu, percebemos que muitos astros têm nomes que remetem a história e mitologia grega e romana, como o planeta Júpiter (senhor dos deuses romano) ou os asteroides Troianos (povo de Tróia e inimigos gregos). Com as constelações não foi diferente, muitas delas têm nomes e contornos originados desse caldeirão de criatividade que é a mente humana. Algumas, em menor quantidade, foram criadas mais recentemente para cobrir áreas do céu onde não havia as constelações tradicionais, principalmente no hemisfério sul, onde o céu passou a ser mais conhecido após as Grandes Navegações.

Veremos a seguir um pouco da história das constelações.


TOURO (TAURUS)

Zeus, deus dos deuses gregos e senhor do Olimpo, era muito mulherengo. Mesmo casado com Hera, se apaixonava e seduzia deusas e mortais até concretizar seu desejo nem que para isso fosse preciso usar dos mais diversos e absurdos artifícios.

Do alto de seu palácio, Zeus se encantou com a beleza da jovem Europa, filha de Agenor rei da Fenícia. Para saciar seu desejo e não levantar suspeitas de sua esposa, o deus de disfarçou de touro branco e manso que chamou a atenção da princesa, logo que esta fascinada pelo animal subiu em suas costas, ele partiu em alta velocidade raptando a moça até a ilha de Creta (passando pelo mar) onde viveram um romance e tiveram filhos.
A estrela Aldebarã é o "olho do touro"


CARANGUEJO (CANCER), DRAGÃO (DRACO), HÉRCULES (HERCULES), HIDRA ou HIDRA FÊMEA (HYDRA) e LEÃO (LEO)

Representado pela quinta maior constelação, Hércules (na mitologia romana) ou Heracles (para os gregos) foi um semi-deus, filho de Zeus com Alcmena, mortal e esposa de Anfitrião. Conta a lenda que Zeus tomou a  aparência de seu esposo e se aproveitou da saída deste para concretizar seu desejo por Alcmena.

Hércules foi, durante sua vida, um misto de herói e vilão. Ao mesmo tempo mostrava compaixão com os oprimidos e os defendia, porém também costumava trapacear e até era violento quando contrariado, cometendo assassinatos. Dotado de uma força incrível, foi capaz de segurar o céu nas costas durante alguns minutos.

Hera, esposa traída de Zeus, como vingança fez Hércules ter um ataque de fúria a ponto de matar sua esposa e seus 3 filhos. Desesperado, foi ao oráculo de Delfos para saber como poderia ser perdoado e ouviu que teria de cumprir 12 tarefas, os famosos 12 trabalhos de Hércules. Além disso, participou da expedição dos Argonautas e matou diversos monstros que assolavam a humanidade.

Dragão é outra constelação rodeada de lendas, porém a mais famosa é aquela em que Hércules num dos seus 12 trabalhos, tinha que colher maçãs do Jardim das Hespérides, o mesmo era protegido por um dragão. Hércules teria feito o dragão dormir e colher as maçãs. Hera, revoltada, teria colocado a imagem do dragão no céu. Vistos no firmamento, a constelação de Hércules parece pisar na do Dragão.

Antiquíssima constelação e de fácil localização (lembra a esfinge egípcia), Leão está cercada de mitos. A lenda mais famosa se refere a ela como o leão de Nemeia que Hércules matou em um de seus 12 trabalhos. O herói encurralou a fera em sua própria caverna e o sufocou até a morte. Zeus transformou o leão em constelação para honrar seu filho.

Maior de todas as constelações com 1.303 graus quadrados, Hidra era um monstro tenebroso, com várias cabeças e tinha o poder de regenerá-las quase no instante que eram cortadas. Hércules, em mais um dos trabalhos, tinha de matá-la, mas para tanto seu sobrinho Iolau ajudou-o queimando as feridas das cabeças arrancadas do monstro com brasa, impedindo a regeneração. Até que sobrasse a última e imortal cabeça, a qual foi soterrada com uma pedra gigantesca encerrando o trabalho do herói. Durante a luta, Hera ainda enviou um caranguejo gigante para distraí-lo, mas Hércules o esmagou com o pé. A deusa premiou os esforços do caranguejo levando-o ao céu.
Acima em ordem: Caranguejo, Dragão, Hércules e Leão. Abaixo: Hidra


CÃO MAIOR (CANIS MAJOR), ESCORPIÃO (SCORPIUS), LEBRE (LEPUS) e ÓRION (ORION),

Gigante e caçador, este é a história da, talvez, mais bela das constelações. Órion possuía grande habilidade com arco e flecha e conhecimento em caçadas. Há várias lendas em torno de Órion, mas em todas há o seu envolvimento com Ártemis, deusa da caça. O caçador era apaixonado pela deusa, mas o amor não era aceito por Apolo, irmão de Ártemis e deus do Sol. Este enviara um escorpião gigante para matá-lo.

Em uma das lendas, Órion estava com seu cão, Sírius fugindo do escorpião, mas Ártemis o flechou acidentalmente e mortalmente. Seu amado desceu ao Tártaro, reino dos mortos, porém a deusa pediu a Zeus que o salvasse, o Senhor dos Deuses o transformou em constelação ao lado de seu cão, o Cão Maior. O escorpião também foi levado aos céus, se tornando um asterismo, porém está numa região aposta a Órion, de forma que não podemos vê-las ao mesmo tempo no céu, como inimigos celestiais eternos.

Uma das histórias sobre Órion diz que ele perseguia Pleione e suas filhas, as Plêiades. Por sete anos, o caçador as procurou em vão. Hoje, no céu, a constelação de Órion parece ainda perseguir o aglomerado estelar das Plêiades, em Touro.

As estrelas que compõe Lebre já eram reunidas numa figura há muitos séculos. Para os egípcios eram o barco de Osíris e para gregos uma lebre. Não há lendas sobre ela, mas como está próxima do caçador Órion e seu cão, o Cão Maior, foi idealizada como um objeto de caçada da época: uma lebre.



ANDRÔMEDA (ANDROMEDA), BALEIA (CETUS), CASSIOPEIA (CASSIOPEIA) e CEFEU (CEPHEUS)

A constelação de Baleia é enorme, com 1.231 graus quadrados. Possui a primeira estrela variável descoberta, Mira, cuja magnitude do brilho oscila de 2,0 a 10,1 num período de 331,65 dias.

Cefeu e Cassiopeia
Conta a lenda que Cassiopeia, esposa de Cefeu e mãe de Andrômeda, se orgulhava de sua beleza, se declarando mais bela que as Nereidas, filhas de Nereu e ninfas do oceano, entre as quais estava Anfitrite a amada de Poseidon, deus dos mares. O deus em vingança manda um monstro marinho para matá-la.

Cefeu preocupado recorre ao oráculo de Amon e recebe o infeliz conselho: deverá amarrar sua filha Andrômeda nos rochedos para ser devorada pelo monstro e assim aplacar a ira de Poseidon. Feito. Andrômeda está à espera da morte, no entanto, numa incrível coincidência, o herói Perseu, que acabara de decapitar a Medusa e carregava consigo seu troféu, encontra a moça e fica a par da situação. Revoltado com o trágico destino dela, ele decide salvá-la e quando a Baleia se aproxima do casal ele expõe a cabeça morta da Medusa ao monstro, que imediatamente se transforma numa montanha de pedras. Perseu e Andrômeda agora livre se apaixonam e se casam. Nessa mesma história vemos a origem lendária das constelações de Andrômeda, Cefeu e Cassiopeia.
Baleia
Andrômeda














PÉGASO ou CAVALO ALADO (PEGASUS) e PERSEU (PERSEUS)

Conforme dito acima, Perseu foi um herói grego. Sua maior façanha foi matar a Górgona Medusa, que tinha o poder de transformar em pedra quem a olhasse. Filho de Zeus com a mortal Dânae, Perseu conseguiu derrotar o monstro usando o escudo de bronze dado por Atena, deusa da inteligência, no qual viu a imagem da Medusa por reflexo sem precisar encará-la. Do sangue derramado, nasceu Pégaso, um cavalo alado. A constelação de Perseu se encontra próxima de Cefeu, Cassiopeia, Andrômeda e Pégaso.



FLECHA ou SETA (SAGITTA), SERPENTÁRIO ou OFIÚCO (OPHIUCHUS) e SERPENTE (SERPENS)

Flecha é uma constelação de fraco brilho, porém de contornos bem identificáveis. Ofiúco é enorme, formando um caminho fechado. Serpente é a única constelação que não é contínua, mas sim formada por dois pedaços: Serpens Caput e Serpens Cauda, a cabeça e a cauda, respectivamente. Entre as duas partes, temos o Serpentário, o portador de serpentes. Em tempos bem antigos, essas duas últimas eram uma única, como um homem segurando uma serpente, mas Ptolomeu em seu catálogo já as dividia.

Uma lenda une as três (existem muitas outras que não relacionam os asterismos entre si). A flecha seria uma vingança de Apolo contra Zeus, tendo em vista que este matara o filho de Apolo, Asclépio, por ser ótimo médico a ponto de ressuscitar os mortos e Zeus não permitiria tal atitude. O Senhor dos deuses mata o médico com seu relâmpago, Apolo revoltado mata com flechas os Ciclopes, gigantes que confeccionam o relâmpago. Como castigo final, Zeus coloca o filho de Apolo no céu (se torna Ofiúco, segurando a Serpente) para que veja todas as noites e sofra com sua morte (algumas lendas contam que foi para consolá-lo).

Tal fato se apoia em duas fontes: 1ª - a cobra era associada pelos gregos como símbolo da saúde e 2ª – conforme o símbolo da medicina, temos duas serpentes que se enrolam em torno no bastão de Asclépio.


URSA MAIOR (URSA MAJOR) e URSA MENOR (URSA MINOR)

A Ursa Maior é a mais conhecida constelação do hemisfério norte, onde é visível o ano inteiro. Se destacando com suas 7 principais estrelas que formam um quadrado e uma cauda, recebeu diferentes denominações e contornos conforme a civilização que observava. Os chineses viam como uma concha, assim como os hebreus. Os germânicos a viam como uma carroça (daí seu segundo nome: Grande Carro) e os britânicos enxergavam a bigorna do rei Artur.

Os gregos nos deram uma história mais emocionante e trágica. Entre as várias versões, uma que se destaca é Calisto, ninfa dos bosques e companheira de Ártemis, tinha feito voto de castidade. Em um dado momento em que ela dormia à sombra de uma árvore, Zeus ficou encantado com a beleza da ninfa e tomado de desejo, tomou a forma de Ártemis e se deitou ao lado da moça. Esta não percebeu de fato quem estava ao seu lado até o momento que foi violada. Este ato lhe geraria um filho, Arcas. Calisto foi abandonada por Ártemis por ter quebrado sua virgindade mesmo ocorrido contra sua vontade. Hera, a esposa super-traída, castigou Calisto e a transformou em ursa, que passou a vagar pelos bosques assustando os mortais.

Certa vez, Arcas, já estando um rapaz feito, encontra-se com a mãe em forma de ursa. Esta vai em sua direção e abre os braços para abraçá-lo, Arcas desconhecendo a real identidade da criatura prepara-se para matá-la, mas Zeus surge e interrompe o assassinato transformando Arcas num pequeno urso e o leva junto com sua mãe para o céu, transformando-os em constelação. Hera ainda insatisfeita empurra-os para o polo norte, para que sofram com o frio e que fiquem o ano inteiro visíveis (os seja, sem descanso). Hoje a Estrela Polar, pertencente à Ursa Menor, é referencia para localização do norte, se encontrando praticamente no prolongamento do eixo imaginário da Terra.


CORVO (CORVUS) e TAÇA (CRATER)

O deus grego Apolo teria pedido ao seu Corvo que lhe trouxesse um copo com água de uma certa fonte. A ave, durante seu trajeto, se deparou com uma figueira e seus frutos quase maduros. O Corvo preferiu esperá-los amadurecer para comê-los. Alguns dias depois o Corvo regressou levando uma Taça com água da fonte e uma serpente de água presa em suas garras. Ele disse a Apolo que se atrasou porque a serpente o atacara. Apolo descobriu a fraude e como castigo lançou os três ao céu: o Corvo, a serpente e a Taça, os transformando em constelação. A punição se completa pelo fato do Corvo nunca alcançar a Taça com água padecendo de sede eterna. Percebe-se aqui uma origem alternativa da constelação de Hidra.



BOIEIRO ou PASTOR (BOÖTES) e CÃES DE CAÇA (CANES VENATICI)

O pastor e seus cães
Entre várias lendas que giram em torno do Boieiro, se destaca uma que afirma que o filho de Deméter era um jovem sensato e se preocupava com os problemas dos homens em conseguir comida, e para ajudá-los, inventou o arado e forneceu aos homens para semearem as terras. Zeus decidiu premiá-lo com um lugar no céu próximo da Ursa Maior, também conhecida como Arado.

Em outra lenda, o Boieiro é o guardião e encarregado de manter as ursas (Maior e Menor) circundando o polo norte. Nos fins do século XVII, o polonês Hevelius separou a parte da constelação anterior que correspondia ao bastão do Pastor e, por erro na tradução, transformou a palavra em cães, logo estes se tornaram os dois cães que auxiliam o Pastor: Asterion e Chara, os cães de caça.


ÁGUIA (AQUILA) e AQUÁRIO (AQUARIUS)

Zeus se apaixonava muito facilmente, inclusive por homens. Ganimedes, príncipe de Tróia, cuidava dos rebanhos do pai quando foi avistado por Zeus. Este ficou encantado pela beleza do jovem e se transformou em águia para raptá-lo (em outras lendas, Zeus enviou uma águia de confiança). Mesmo contra a vontade de Hera, Ganimedes passou a viver no Olimpo como copeiro carregando sua jarra com o néctar, bebida dos deuses (aquário significa portador de água). Há histórias, nas quais o pai do rapaz raptado sentia muitas saudades do filho, Zeus, compadecendo da situação, colocou Ganimedes no céu para que seu pai o visse todas as noites.













COCHEIRO (AURIGA)

Entre as diversas interpretações dessa constelação fácil de localizar, consta aquela em as estrelas que compõe o Cocheiro representam um rapaz carregando uma cabra e duas crianças. Esse desenho tem como pano de fundo duas lendas da infância de Zeus, em uma delas ele foi amamentado por cabra chamada Amalteia e em outra Zeus ficou aos cuidados de Melissa, filha do rei de Creta, que o alimentou com mel e leite de cabra.



ALTAR (ARA), CENTAURO (CENTAURUS) e LOBO (LUPUS)

Essas três constelações meridionais se unem numa lenda, embora existam outras que contem a origem delas sem se relacionarem. Na primeira conta-se que o centauro sacrificou o lobo para ser oferecido aos deuses no altar.
Porém a origem apenas de centauro chama mais atenção, pois é filho de Cronos, senhor do céu e da terra antes da ascensão de Zeus. Cronos, mesmo casado com Reia, se apaixonou por Filira, filha do Titã Oceano. Esta se transforma em égua para despistá-lo, porém o esperto Cronos toma a forma de um cavalo e a possui. Dessa união nasce Quíron, um ser corpo de cavalo e tronco de homem. Ao contrário dos outros centauros, Quíron era bondoso e muito inteligente, mas foi acidentalmente e mortalmente ferido por Hércules. Zeus ficou compadecido e o transformou em constelação.


BÚSSOLA (PYXIS), CARNEIRO (ARIES), POPA (PUPPIS), QUILHA (CARINA) e VELA (VELA)

Nos tempos passados havia uma grande constelação: o Navio dos Argonautas (Argo Navis), ocupando uma grande área do céu (cerca 1.884° quadrados). Representava o navio da expedição dos Argonautas que tinha como objetivo obter o Velocino de Ouro (lã de carneiro que se transformou em ouro) que estava em Cólquida, atual Geórgia. Entre seus tripulantes estavam Orfeu (músico), Argo (construtor do navio), Tífis (piloto), Castor e Pólux (irmãos gêmeos), Teseu, Hércules e Jasão (comandante).
Popa, Quilha e Vela: Navio dos Argonautas
No século XVIII Nicolas-Louis de Lacaille, astrônomo francês, dividiu o Navio em três constelações que correspondem às suas partes: Quilha, Vela e Popa. Depois disso, Lacaille, no seu intento de homenagear os progressos científicos, ainda criou a constelação de Bússola com estrelas que faziam parte do mastro do velho navio.


CISNE (CYGNUS) e GÊMEOS (GEMINI)

Essas duas constelações tem várias origens, inclusive sem conexão entre as duas, porém uma das mais famosas nos conta que Zeus (ele de novo) se encantou pela rainha de Esparta Leda. O deus tomou a forma de um cisne para se aproximar da mulher e realizar seu desejo. Leda após o ato botou dois ovos, do qual nasceram Castor (mortal e filho de Tíndaro, rei de Esparta) e Pólux (imortal e filho de Zeus). Os dois irmãos eram muito amigos ao ponto que numa batalha Pólux viu Castor morrer, o semideus muito abalado pediu que Zeus o permitisse viver no mundo dos mortos ao lado de seu irmão, mas Zeus fez melhor: colocou ambos no céu para que o mundo conhecesse a verdadeira amizade. Cisne também é conhecida como Cruz do Norte.

Castor e Pólux: os gêmeos


LIRA (LIRA)

Esta pequena, porém muito notável constelação encabeçada por Vega, a 5ª estrela mais brilhosa do céu tem uma origem muito triste. Orfeu era um exímio tocador de lira (instrumento de cordas) a ponto que até animais selvagens paravam para ouvi-lo.Orfeu casou com a bela Euridice e era muito feliz com ela, até que a esposa começou a ser importunada por Aristeu, um apicultor. Euridice correndo para fugir de Aristeu que a perseguia caiu e foi picada por uma serpente e morreu. Orfeu desesperado entoa em sua lira melodias tristes e decide ir ao submundo para tentar trazê-la de volta.

Nessa viagem sempre tocando sua lira encanta Caronte, o barqueiro do submundo e Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os portões do inferno. Frente a frente com Hades, deus dos mortos, decide convencê-lo e liberar sua esposa, nisto toca sua lira de forma que o deus chega a chorar. Hades faz um trato com Orfeu, Euridice pode sair, mas não pode vê-la até que ela receba luz do Sol. Orfeu vai a frente guiando sua esposa com sua música, agora alegre. Ao sair da caverna de acesso ao submundo, Orfeu se vira e vê que sua esposa ainda está no escuro. Hades a leva de volta, Orfeu vê sua esposa como um fino fantasma desaparecendo e ainda conseguiu ouvir um rápido e triste adeus. Orfeu sai amargo com a vida, até ser atacado por um grupo de mulheres selvagens que fazem seu corpo em pedaços. Zeus em honra à música de Orfeu leva sua lira ao céu, se eternizando em constelação.


CINZEL (CAELUM), COMPASSO (CIRCINUS), ESCULTOR (SCULPTOR), FORNALHA (FORNAX), MÁQUINA PNEUMÁTICA (ANTLIA), MICROSCÓPIO (MICROSCOPIUM), MONTANHA DA MESA (MENSA), OITANTE (OCTANS), PINTOR (PICTOR), RÉGUA (NORMA), RELÓGIO (HOROLOGIUM), RETÍCULO (RETICULUM), TELESCÓPIO (TELESCOPIUM),

A antiga lista de constelações de Ptolomeu continha 48 constelações, quase todas do hemisfério norte. Com as grandes navegações dos séculos XV e XVI, um novo céu foi descoberto: o hemisfério celestial sul. Novas estrelas descobertas, porém “soltas”, ou seja, sem conexão com as constelações do Norte. Disposto a resolver tal problema, o astrônomo francês Nicolas Louis de Lacaille em 1750 viajou ao Cabo da Boa Esperança (na atual África do Sul) e por cinco anos estudou estrelas e criou 14 asterismos, os treze acima mais a Bússola que já comentamos anteriormente. Ele decidiu homenagear os grandes feitos da humanidade nas áreas das ciências e tecnologia.

Algumas como Cinzel, Compasso, Escultor e Máquina Pneumática são compostas por estrelas muito fracas e sem atrativos. Formalha, também não é atraente, porém homenageia o forno de um famoso químico francês: Antoine Lavoisier, nessa região do céu há um interessante aglomerado de galáxias, as quais são vistas de telescópios de 200 mm ou maiores.

Microscópio e Telescópio de brilho fraco, mas que homenageiam os aparelhos de visão extremos, aquele que amplia o minúsculo e aproxima o distante. Montanha da Mesa é diferente, ela representa uma montanha de mesmo nome situada em Cidade do Cabo, África do Sul. Essa montanha tem a peculiaridade de ter um topo plano. O Oitante homenageia o instrumento precursor do sextante, como tal era usado para medir a altitude de um corpo celeste sendo muito útil na navegação e nos estudos astronômicos em sua época, além disso nessa constelação fica o polo sul celestial, a estrela sigma do Oitante é a estrela visível mais próxima do polo, porém de brilho fraquíssimo.

Montanha da Mesa
Pintor, originalmente conhecida como Cavalete do Pintor, faz um tributo a essa classe artística. Relógio identifica o instrumento que rege nossa vida, embora inicialmente Lacailleteria chamado de Relógio Oscilatório. Por fim, Retículo (ou Rede) foi nomeada em referência à quadricula da ocular do telescópio de Lacaille, inicialmente lhe foi dada o nome de Rombo, mas Retículo “venceu” e ficou.
































CÃO MENOR (CANIS MINOR) e VIRGEM (VIRGO)

Antiga constelação, várias civilizações do passado a relacionavam com seus deuses. Uma das origens mais famosas relata que Erígone, a virgem, seria filha de Ícaro. Este conhecendo os segredos da produção de vinho revelado pelo deus Dionísio embriaga os membros de sua aldeia, estes se achando envenenados o matam. Maera, cão de Ícaro late desesperado e chama a atenção de Erígone que vendo seu pai morto decide se matar e o faz. Os deuses decidem transformá-la em constelação, Virgem, bem como o seu cão, Cão Menor.


ESCUDO DE SOBIESKI (SCUTUN), LAGARTIXA (LACERTA), LEÃO MENOR (LEO MINOR) LINCE (LYNX), RAPOSA (VULPECULA) e SEXTANTE (SEXTANS)

Constelações criadas no século XVII por Johannes Hevelius, comerciante, homem público e astrônomo polonês. Não possuem lendas ou mitologias relacionadas, porém o Escudo de Sobieski se refere ao rei João Sobieski da Polônia que deteve o avanço das tropas otomanas em seu país, além de ser seu patrocinador nos estudos.

Leão Menor e Raposa têm origens sem graça. Também criadas por Hevelius, mas sem lógica alguma, por exemplo, Raposa era para ser “Raposa com Ganso”, pois tentava identificar a dupla de animais. Leão Menor nasceu de pedaços de outras constelações, porém foi mantida a designação Bayer das estrelas, o que a fez ter somente uma estrela indicada por letras gregas, as demais são apenas números.

Hevelius também traçou outras 4 constelações no céu. Uma delas foi Cães de Caça, já vista junto com o Boieiro. Lince, assim foi chamada, pois eram necessários ter olhos de lince para identificá-la, pois suas estremas são muito fracas (sua principal tem magnitude aparente 3,14). Lagartixa era originalmente Lagarto, mas passou por várias revisões e até com sugestão de alteração de nome para Cetro e Mão da Justiça, mas a UAI fez justiça e manteve o nome Lagartixa. Já o fraquíssimo conjunto estelar do Sextante tem seu nome devido a homenagem ao instrumento usado por Hevelius para medir as posições das estrelas, o sextante. Durante um incêndio, Hevelius perdeu seu sextante e outros aparelhos, e teria dito “Vulcano venceu Urania”, o deus do fogo derrota a musa da Astronomia, e o nome Sextante pegou.














CABELEIRA DE BERENICE (COMA BERENICES)

Rara situação onde a lenda encontra personagens reais. A rainha Berenice II do Egito fez uma promessa: cortaria seu cabelo se seu marido, Ptolomeu III regressasse a salvo da guerra. Assim aconteceu. Berenice cortou os cabelos e ofereceu aos deuses, expondo no templo, porém logo o cabelo sumiu. Afrodite o levou ao céu para ser admirado por todos.
Cabeleira de Berenice abaixo dos Cães de Caça


AVE DO PARAÍSO (APUS), CAMALEÃO (CHAMAELEON), DOURADO (DORADO), FÊNIX (PHOENIX), GIRAFA (CAMELOPARDALIS), GROU (GRUS), HIDRA MACHO (HYDRUS), ÍNDIO (INDUS), MOSCA (MUSCA), PAVÃO (PAVO), PEIXE-VOADOR (VOLANS), POMBA (COLUMBA), TRIÂNGULO AUSTRAL (TRIANGULUM AUSTRALE), TUCANO (TUCANA) e UNICÓRNIO (MONOCEROS)

As constelações acima foram fruto de um trabalho em conjunto de algumas pessoas. Nos fins do século XVI o astrônomo e cartógrafo holandês Petrus Plancius solicitou aos navegadores Pieter Dirkszoon Keyser e Frederick de Houtman que catalogassem o céu do sul que estava cheio de “vazios”. Plancius, em posse desse catálogo, colocou-as num globo, agrupou em doze novos asterismos (Pomba, Girafa e Unicórnio não faziam parte) e homenageou animais e temas de livros da época. Johann Bayer, criador da designação Bayer usada até hoje, fez o primeiro atlas a cobrir toda esfera celeste em sua grande obra Uranometria. Tal fato consolidou as novas constelações e foram adotadas pela UAI séculos depois.

Em 1612 (ou 1613) Plancius produziu um novo globo e desenhou novas constelações: Caranguejo Menor, Seta do Sul, Girafa, Mosca do Norte, Galo, Rio Jordão, Unicórnio, Tigre, Pomba. Destas, apenas Pomba, Girafa e Unicórnio “sobreviveram” e foram adotados pela UAI. Embora haja indícios que Pomba já era reconhecida como tal pelos gregos antigos.

















DELFIM ou GOLFINHO (DELPHINUS)

Poseidon, o deus grego dos mares, desejou casar-se com Anfitrite, uma sereia, mas esta não queria e fugiu. O deus enviou um golfinho para procurá-la e convencê-la, e conseguiu. Poseidon casou-se com Anfitrite e, como agradecimento, colocou a imagem do golfinho no céu. Trata-se de uma constelação pequena e fraca, mas apresenta um desenho característico: lembra um golfinho a saltar.



COROA BOREAL (CORONA BOREALIS) e COROA AUSTRAL (CORONA AUSTRALIS)

As coroas já eram descritas por Ptolomeu no século II. ambas são formadas por estrelas de brilho pequeno, mas são fáceis de localizar pela aparência, formando um semicírculo. Suas origens vêm da Grécia Antiga e se relacionam com Dionísio.

A que fica no céu do norte, a Coroa Boreal, representa a coroa da princesa de Creta Ariadne, ela se recusava a casar-se com Dionísio por vê-lo como mortal e não desejar casa-se com humano, mas ele prova sua divindade, lançando sua coroa ao céu. Ariadne, então, aceitou o casamento. 

No céu do sul, a Coroa Austral fica próximo a Sagitário e às vezes é associada a ele, mas sua lenda principal nos conta que Zeus, em mais uma de suas paixões adulteras, engravidou Semele, uma mortal. Hera, ávida por vingança, toma a forma de uma antiga criada e convence Semele a abraçar Zeus com este usando sua forma divina. Semele grávida e mesmo ciente do perigo o faz, mas morre ao entrar em contato com a essência de um deus. O filho que ela espera é Dionísio. Zeus arranca a criança do seu ventre e o gera em sua coxa. Dionísio é criado por uma tia, mas quando adulto desce ao submundo atrás de sua mãe e a resgata. Dionísio produz uma coroa de flores e a coloca no céu em homenagem a sua mãe.


SAGITÁRIO ou ARQUEIRO (SAGITTARIUS)

Constelação zodiacal e uma das mais antigas, tem com lendas em diversas culturas: gregas, árabes, sumérias e persas. Estes a chamavam de Kaman e Nimasp. Os árabes a associavam a um grupo de avestruzes que iam beber água na Via Láctea. Os sumérios assim como os gregos imaginavam o ser com cabeça e busto de homem com corpo de cavalo. Sagitário é mais antiga que Centauro. Embora às vezes se refiram ao mesmo personagem: Quíron. Em uma das lendas, conta-se que Quíron fez a constelação no céu para guiar Jasão e os Argonautas no mar. 

É na direção de Sagitário que se localiza o centro de nossa galáxia. Cheia de aglomerados e nebulosas, é, portanto, uma região muito interessante para se observar com telescópios.


POTRO ou CAVALINHO (EQUULEUS)

Relacionada por Ptolomeu em sua obra, não há nenhuma prova que tenha uma lenda associada a ela. Imagina-se que o próprio astrônomo a tenha criado. Mas Ptolomeu sempre foi acusado de nunca ter criado nada apenas reunir conhecimento dos outros, com isso há aqueles que atribuem os contornos do Potro a um contemporâneo do autor. 


TRIÂNGULO (TRIANGULUM)

Com seu brilho fraco, mas com desenho característico se torna facilmente localizável. Conhecida desde antiguidade, o Triângulo era também chamado de Delta por se assemelhar a letra grega correspondente. Uns diziam que representava o delta do rio Nilo outros a ilha da Sicília.


CAPRICÓRNIO (CAPRICORNUS)

Desde o tempo dos babilônios e caudeus refere-se a uma cabra. Mas no imaginário grego ganhou uma calda de peixe. A cabra do mar, como também é chamada, tem muitos mitos. Numa delas representa Almateia a cabra que alimentou Zeus em sua infância escondida do pai Cronos. Em outra, simboliza Pan, deus dos pastores, na época das batalhas entres deuses e titãs pelo controle do universo. Pan fugia do monstro Tifão e mergulhou no rio Nilo, mantendo sua parte de cima fora da água em forma de cabra e a submersa em forma de peixe.



PEIXES (PISCES)
Mãe e filho amarrados
Trata-se de uma constelação com estrelas de médio e baixo brilho, mas sua localização pode ser facilitada pelo fato dela formar um grande “V” que se encaixa no quadrado de Pégaso. Sua figura representa dois peixes amarrados pela cauda e a lenda desse agrupamento estelar no revela que a deusa do amor Afrodite e seu filho Eros fugiam do monstro Tifão. A deusa sabia que pela água poderiam se salvar, então se transformaram em peixes e se prenderam com uma corda para que não se perdessem um do outro.


PEIXE AUSTRAL ou PEIXE DO SUL (PISCIS AUSTRINUS)

Esta constelação tem origens longínquas, sendo identificada em culturas anteriores às da Mesopotâmia. Sua identificação é facilitada pela presença de Fomalhaut, estrela com 1,16 de magnitude aparente.

Por vezes o Peixe Austral é representado recebendo a água que jorra do pote de Aquário. Segundo os antigos sírios, a deusa da fertilidade Atargatis, desiludida no amor, tenta suicídio se jogando no rio, mas é salva por um peixe. Sua filha Semiramis, no futuro, se torna fundadora e rainha da Babilônia. Posteriormente os gregos adotariam a constelação, mas adaptando-a às suas lendas.
Peixe Austral ao lado de Grou


ERÍDANO ou RIO (ERIDANUS)

É a mais comprida de todas as constelações. Presente em várias culturas, sempre foi associada a um rio. Para os egípcios era o rio Nilo, para os babilônios era o Eufrates e para os italianos o rio Pó.

Faetonte, filho de Hélio (deus do Sol), pediu ao pai para guiar o carro que transportava o astro. Apesar de relutante de início, permitiu. Porém Faetonte não tinha força para manobrar e ficou subindo e descendo com o Sol, provocando desastres na Terra. Zeus se viu obrigado a fulminá-lo com um raio e Faetonte caiu sobre o rio Erídano.



BALANÇA (LIBRA)
A balança da justiça
A discreta balança é a mais jovem das constelações zodiacais, tanto que antes pertencia à de Escorpião. Suas estrelas principais têm nomes que se referem às pinças do animal: Zubenelgenubi (α Librae) significa “pinça do sul”e Zubeneschamali (β Librae) “pinça do norte”. Sem lenda própria, é associada à de Virgem, onde a deusa da justiça ergue a balança para “pesar” os fatos e julgá-los. 


CRUZEIRO DO SUL ou CRUZ DO SUL (CRUX)

A menor de todas as constelações (tem apenas 68° quadrados, 1/600 do céu), mas a mais famosa do hemisfério sul, a ponto de figurar em diversas bandeiras nacionais e locais. Foi um marco para a navegação, pois seu eixo principal aponta para o polo sul. Foram vistas pelos gregos, mas devido à precessão dos equinócios ficaram invisíveis antes do início da Era Cristã. Quando catalogada pela primeira vez, fez parte de Centauro.
A mítica cruz

Sem lendas gregas, mas farta de representações ameríndias e aborígenes. Fez parte da constelação da Ema dos índios Tupinambás do Brasil, lembrava um pato voando para o sul, segundo habitantes de Tonga e para os Maoríes (polinésios) era um barco. 

O asterismo do Cruzeiro do Sul apesar do pequeno tamanho abriga dois belos e opostos objetos: a Caixa de Joias (um aglomerado aberto de estrelas) e o Saco de Carvão (uma nebulosa escura).


Fonte da maioria das figuras:


Se ainda não conhece os demais capítulos dessa trilogia, acesse:

Constelações I: desenhos no céu  e Constelações II: o zodíaco

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Terra vista da Estação Espacial Internacional