Constelações II: o zodíaco

08 de junho de 2015




INTRODUÇÃO

Como vimos em Constelações I: desenhos no céu, um dos 4 grupos de constelações em que o céu foi dividido é o zodíaco, trata-se do menor grupo com 13 membros, mas é o que mais auxilia astrônomos amadores e até profissionais, além de ser fonte de misticismo e superstições, que muitas vezes, sobrepõem à verdadeira ciência, tornando mais fonte de especulações futuristas do que objeto científico.

De início, cabe fazer alguns esclarecimentos acerca desse seleto grupo. Zodíaco vem do latim zōdiacus que por sua vez se originou do grego antigo e significa “círculo de animais”. Os povos primitivos tentavam prever as mudanças climáticas, como chuvas, a fim de se prepararem para plantar e percebiam que as estrelas sempre mantinham uma regularidade em seu “passeio” pelo céu noturno, foi natural associá-las a previsões. Com isso, a Astrologia surgia como “ciência da arte divinatória”. Estrelas e planetas que apareciam em períodos de seca ou de vendavais foram considerados culpados.

Do decorrer de tudo já citado, a fértil mente humana foi ligando os pontos e formando desenhos, as constelações, porém percebeu que as estrelas das regiões que circundam as regiões norte e sul não ajudam nas previsões, pois passam meses visíveis ou invisíveis, não ajudando, porém as que ficam no caminho do Sol, da Lua e dos planetas se mostram úteis. Esse caminho (estamos numa época que a Terra era considerada imóvel) passou a ser chamado de enclítica. Os asterismos que aí ficavam eram figuras de animais, tais como o bode, o touro e os peixes, que anualmente seguiam sua trajetória, fechando um ciclo, um círculo de animais.



SIGNOS X CONSTELAÇÕES

Temos agora um grande caldeirão de mitos fervendo: como o zodíaco indicava o futuro, a passagem dos planetas, do Sol e da Lua por ele decidiria nossa vida, as ações, conquistas e até o temperamento. A Astrologia reinava. Observar o céu, mais do que aprender sobre ele, era para adivinhar eventos humanos e terrestres. O caminho do Sol pelo zodíaco foi divido em 12 partes e cada uma recebeu uma constelação, surgem os signos astrológicos.

Ciclo dos signos com os símbolos do horóscopo

A passagem do Sol em uma constelação indicava o signo que se estava vivenciando e isso ia determinar a vida de quem nascesse sob regimento deste ou daquele signo.

Visto da Terra, o Sol passeia entre as constelações

Portanto, como se vemos acima, as constelações ficaram associadas aos signos (infelizmente até hoje há quem ainda acredite que a passagem de Júpiter em Libra pode influenciar a saúde). Abaixo listamos os signos com os períodos de cada um deles :

Áries (21/03 - 20/04)
Touro (21/04 - 21/05)
Gêmeos (22/05 - 21/06)
Câncer (21/06 - 23/07)
Leão (24/07 - 23/08)
Virgem (24/08 - 23/09)
Libra (24/09 - 23/10)
Escorpião (24/10 - 22/11)
Sagitário (23/11 - 21/12)
Capricórnio (22/12 - 20/01)
Aquário (21/01 - 19/02)
Peixes (20/02 - 20/03) 


PRECESSÃO DOS EQUINÓCIOS
Como sabemos a Terra executa um movimento, no qual seu eixo descreve uma circunferência, esse movimento chama-se precessão ou precessão dos equinócios. Devido esse movimento, o eixo do planeta muda sua direção o que faz as estrelas “mudarem de lugar” no céu e, portanto, todo o zodíaco também se desloca, cerca de 50,23 segundos de arco por ano, fechando um ciclo em 25.770 anos. Isso faz com que as constelações que inicialmente foram associadas aos signos não correspondam, hoje, aos mesmos. Por exemplo, astrologicamente quem nascer entre 22 de maio a 21 de junho estaria sob signo de gêmeos, porém astronomicamente o Sol está em Touro. Eis mais um motivo para não se iludir com previsões e planetas que “decidem” nossa vida. Astrologia não é ciência! Daqui a cerca de 23 mil anos, as constelações “voltarão ao lugar inicial” para depois saírem novamente, como sempre foi e sempre será até o fim da Terra.


DE 12 PARA 13 (OU MAIS) CONSTELAÇÕES ZODIACAIS

Oficialmente o zodíaco é uma região do céu, definida como uma região do céu limitada entre dois paralelos, 8° ao norte e 8° ao sul da eclíptica, região por onde “percorrem” os planetas, além do Sol e da Lua, o que praticamente resume sua importância.

Historicamente, o zodíaco correspondia as 12 constelações que eram associadas aos signos, mas na realidade a faixa zodiacal intercepta 24 asterismos, uns por completo, outros em pequenas partes. No entanto, são 13 os grupos estelares cortados pela linha da eclíptica. Abaixo, uma tabela das constelações e o tempo de permanência do Sol em cada uma delas.

CONSTELAÇÃO
PERÍODO
PERMANÊNCIA
Capricornus
20/01 a 16/02
28 dias
Aquarius
17/02 a 11/03
23 dias
Pisces
12/03 a 18/04
38 dias
Aries
19/04 a 13/05
25 dias
Taurus
14/05 a 21/06
39 dias
Gemini
22/06 a 20/07
29 dias
Cancer
21/07 a 10/08
21 dias
Leo
11/08 a 16/09
37 dias
Virgo
17/09 a 30/10
44 dias
Libra
31/10 a 22/11
23 dias
Scorpius
23/11 a 29/11
07 dias
Ophiuchus
30/11 a 17/12
18 dias
Sagittarius
18/12 a 19/01
33 dias
























CONHECENDO O ZODÍACO

Agora veremos um pouco de cada uma delas, começando do Ponto Vernal (ou ponto gama), que é o local onde a enclítica cruza com o equador celeste, e, portanto, usado como origem nos sistemas de coordenadas celestes.

ARIES
Áries e em baixo Triângulo

Aries ou Carneiro, constelação que não lembra o animal que lhe dá nome, mas sua localização fica mais fácil, por estar próximo a Pegasus, embora esta não lhe faça fronteira. Sua estrela mais brilhante é Hamal, derivada do árabe Al Hamal, o cordeiro, tem brilho significante: 2,01 de magnitude aparente (47ª mais brilhante do céu).

TAURUS
Touro com destaque para as Plêiades

A constelação de Touro lembra aproximadamente a cabeça do animal com as estrelas β e ζ nas pontas dos chifres. A estrela principal é Aldebarã, o olho do touro, com magnitude aparente de 0,85, 13ª mais brilhante do céu e com diâmetro quase 40 vezes maior que o Sol. Nessa constelação temos um dos mais belos aglomerados visíveis a olho nu, as Plêiades (figura abaixo). Conhecida em alguns locais como Sete Estrelas, devido a possibilidade de ver 7 ou 8 estrelas bem próximas, revelam ao ser observadas com um simples binóculos cerca de 100 objetos distintos.


GEMINI
Os gêmeos de "mãos dadas"

A terceira constelação da sequência é Gêmeos. Destaca-se por suas duas estrelas mais brilhantes, Castor e Pollux, que segundo a mitologia grega eram dois irmãos gêmeos. Pollux (β Gem) é a mais brilhante com magnitude aparente de 1,14 (17ª mais brilhante do céu) e está “apenas” a 33,8 anos-luz da Terra. Um meio de localizá-la é seguir a seguir a linha imaginária que une o cinturão de Órion a Betelgeuse.

Gêmeos é também é o radiante de uma chuva de meteoros que ocorre entre 7 e 17 de dezembro originadas do cometa 3200 Faetonte. Recebendo o nome de Geminidas, durante o pico da chuva (dias 13 a 14) podemos ver quase 100 meteoros por hora.

CANCER
Câncer e a "cabeça" da Hidra no canto inferior esquerdo

Câncer ou Caranguejo é o asterismo que sucede Gêmeos. Trata-se da mais fraca das constelações em temos de luminosidade das componentes, o que a torna difícil de localizá-la em regiões urbanas, mesmo interioranas. Discreta, sua estrela mais brilhante é Al Tarf (magnitude aparente 3,5). Seu formato tende a representar as pinças do caranguejo. O destaque em Câncer é o aglomerado de estrelas do Presépio (ou Manjedoura, ou Colmeia) visível ao olho nu como um ponto difuso, porém mais interessante vista de um binóculos.

LEO
Leão com suas principais estrelas

Lembrando uma esfinge egípcia, Leão representa bem o nome que lhe é dado. Conforme a mitologia grega, trata-se do leão da Neméia morto por Hércules usando as próprias garras e transformado por Zeus em constelação para honrar a proeza do filho.

Suas estrelas principais são Regulus (magnitude 1,4), Denebola (magnitude 2,1) e Algieba (magnitude 2,21). Esta última, o coração do Leão, se vista por um telescópio de pequeno porte revela que na realidade se trata de uma estrela binária, composta por uma estrela gigante laranja e outra amarela separadas por cerca 170 UA.

Ainda temos como destaque em Leão as famosas Leônidas, ou seja, uma chuva de meteoros cujo radiante localiza-se nessa constelação. Ocorre na terceira semana de novembro e a cada 33 anos tem sua intensidade aumentada devido à visita do cometa Tempel-Tuttle que vem repovoar o espaço com seus fragmentos.


VIRGO

A constelação de Virgem em nada se parece com uma mulher. O asterismo do mês de maio é uma das mais antigas, com várias origens lendárias foi, portanto, das  primeiras a receber a denominação. Sua estrela princial, Spica ou Espiga, tem magnitude de 1,0 o que a torna a 15ª mais brilhante do céu. Espiga faz um triângulo quase equilátero com Arcturos (α Boo) e Denebola (β Leo).

Na direção dessa constelação temos o chamado Aglomerado de Virgem, um grupo com mais de 1300 galáxias unidos pela atração da gravidade e que influencia o nosso Grupo Local, conjunto de galáxias da qual a Via Láctea faz parte.


LIBRA
Libra e as "pinças" do escorpião no canto esquerdo
Libra ou Balança é a sétima constelação zodiacal. Assim como Câncer, também é formada por estrelas pouco luminosas. As duas mais brilhantes são Zubenelgenubi (α Lib) e Zubeneschamali (β Lib) com magnitudes aparentes de 2,8 e 2,61 respectivamente.

Um fato interessante em Libra são os nomes de suas estrelas principais. No passado, Libra fazia parte da constelação de Escorpião ocorrência este que se revela no significado dos nomes, Zubenelgenubi significa “garra do sul” e Zubeneschamali que dizer “garra do norte”, em referência as pinças do escorpião.


SCORPIUS

Uma constelação que representa fielmente o nome que lhe foi dado. O Escorpião possui pinças e o ferrão na ponta da cauda como visto acima. Segundo a mitologia grega o escorpião foi enviado pela deusa da caça Ártemis para matar o gigante caçador Órion, pois este interferia em suas caçadas.

É a constelação do meio do ano, visível a partir do final de abril até o início de outubro. Possui várias estrelas de brilho considerável como Antares (α Sco), Shaula (λ Sco), Sargas (θ Sco) e Wei (ε Sco)

A estrela principal, Antares, é o coração do escorpião. Trata-se de uma supergigante vermelha e tem cerca de 700 vezes o raio do Sol isso significa que se colocada no centro do Sistema Solar sua parte externa ultrapassaria a órbita de Marte. Antares é uma binária, a grande estrela anterior tem uma companheira mais discreta e menos luminosa. A dupla tem magnitude aparente de 1,09. Por ter um brilho avermelhado semelhante (e, portanto, rival) ao de Marte, seu nome é derivado de Anti-Ares (Anti-Marte). Shaula (magnitude aparente de 1,62) é a ponta da cauda, na realidade é um sistema de múltiplas estrelas.

OPHIUCHUS

A constelação “intrusa” no zodíaco, mas conhecida há séculos. Os limites do Serpentário ou Ofiúco foram definidos com maior precisão em 1930 no primeiro congresso internacional da União Astronômica Internacional. A introdução do Ofiúco como constelação zodiacal provocou muita discussão nos membros da Astrologia, pois seria necessário redefinir a influência dos astros em nossa vida.

Ofíúco é representado por Asclépio, deus grego da medicina, segurando uma serpente (na realidade a constelação de Serpente é dividida em duas partes ao redor do Ofiúco). Ocupando uma grande área no céu, tem com estrela principal Rasalhague (α Oph) com magnitude aparente de 2,09. Ainda possui mais 4 estrelas com magnitude inferior a 3, Sabik (2,43), ζ Oph (2,54), Yed Prior (2,73) e Cebalrai (2,77).

Também merece destaque a Estrela de Barnard, ela é a 5ª estrela mais próxima da Terra, só perdendo para o Sol e o trio estelar Alpha Centauri, ficando a cerca de 5,9 anos-luz de distância, porém invisível a olho nu, pois seu brilho tem magnitude aparente de 9,5, abaixo do limite da visão humana sem instrumentos que é de 6. Além disso, ela se destaca por ser a estrela com maior movimento aparente no céu, cerca de 10,3 segundo de arco por ano.

SAGITTARIUS
Sagitário no centro, abaixo Coroa Austral e na direita acima Escudo

O Arqueiro aponta sua flecha para o coração do escorpião. Com um pouco de sensibilidade pode-se perceber o arco formado pelas estrelas da constelação e no centro uma “chaleira” formada por estrelas brilhantes torna-se bem atraente. Com 7 estrelas de magnitude inferior a 3, temos como principal Kaus Australis (ε Sgr) medindo 1,9.

Sagitário é o local onde fica o centro da Via Láctea por isso, há grande concentração de estrelas e nebulosas quando observadas com aparelhos astronômicos, uma delas é a Nebulosa Trífida (M 20) (à esquerda) muito colorida e jovem talvez tenha apenas 300.000 anos, outro destaque vai para a Nebulosa Laguna (M 8) (abaixo), formada por gases ionizados.

 










 CAPRICORNUS
Capricórnio e no cantinho: Microscópio

Lembrando um triângulo, Capricórnio é uma constelação antiga, às vezes traduzida como cabra-do-mar. Apesar de ser formada por estrelas de média luminosidade, Deneb Algedi (δ Cap) se sobressai com 2,85 de magnitude aparente, mas não se trata de uma única estrela e sim de 4 componentes, duas duplas sem interação gravitacional entre si.


AQUARIUS

Reconhecida desde a antiguidade, a constelação de Aquário fica numa região do céu conhecida como o Mar ou a Água, devido a proximidade de asterismos relacionados a água como Baleia, Peixes e Erídano (rio), este último parece fluir do pote carregado por Aquário.

É a 10ª constelação em área do céu, com mais de 50 estrelas visíveis a olho nu, mas tênues em sua maioria. Sadalsuud (β Aqr) com magnitude de 2,87 lidera como a estrela mais brilhante, seguida por Sadalmelik (α Aqr) com 2,95 de magnitude.

Em Aquário temos uma das nebulosas planetárias mais próximas conhecidas, a Nebulosa da Hélice (NGC 7293). Estando a apenas 600 anos luz, pode ser vista com um binóculos ou pequenos telescópios revelando sua beleza.
Nebulosa da Hélice

PISCES
Peixes entre Pégasus à esquerda e Áries abaixo

Fechando o zodíaco, temos os Peixes. Uma constelação extensa que parece se “deitar” nas costas de Pégasus. É um conjunto de estrelas pouco luminosas, tendo em vista sua principal estrela Kullat Nunu (η Psc) ter 3,6 de magnitude aparente.

Peixes é representado pela figura de dois peixes quase perpendiculares, segundo a mitologia grega, Afrodite e seu filho Eros, se transformaram em peixes para escapar do monstro Tifão, mas permaneceram amarrados para não se perderem um do outro.

Finalizamos esse texto fazendo um convite para conhecer a terceira e última parte desse assunto tão fascinante.


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