Monções de metano em Titã

Chuvas torrenciais do hidrocarboneto ajudam a moldar a superfície do satélite.
28 de outubro de 2017

A sonda Cassini da NASA criou esta imagem de cores verdadeiras de Titã quando passou na frente dos anéis de Saturno. A espessa atmosfera de nitrogênio pode ser vista como uma neblina azul que envolve o satélite.

Até 2004, nosso conhecimento sobre Titã, o satélite de Saturno que tem o tamanho de Mercúrio, era muito escasso, embora já soubéssemos que tivesse uma atmosfera densa e rica em nitrogênio. Mas ao longo de 13 anos, a sonda Cassini completou mais de 100 voos sobre Titã, constantemente coletando dados sobre a misteriosa lua. Em 2005, Cassini até pousou o módulo Huygens na superfície do satélite, marcando a primeira vez que aterrissamos em um objeto externo do Sistema Solar. Graças à missão Cassini-Huygens, os pesquisadores descobriram que Titã possui uma paisagem surpreendentemente vasta e variada, salpicada de lagos e mares de metano e etano, reabastecidas por chuvas de nuvens de hidrocarbonetos.

Agora, de acordo com um estudo recente publicado na Nature Geoscience, uma equipe de cientistas planetários e geólogos da Universidade da Califórnia em Los Angeles - UCLA descobriu que essas nuvens de hidrocarbonetos não provocam apenas chuvas suaves sobre a superfície da lua. Em vez disso, os pesquisadores verificaram que Titã experimenta chuvas semelhantes a monções capazes de despejar enormes quantidades de metano em períodos de tempo muito curtos.

O professor associado de ciência planetária da UCLA e coautor do estudo, Jonathan Mitchell, disse em um comunicado à imprensa que em seus modelos climáticos, as tempestades de metano mais intensas  despejariam pelo menos 30 centímetros de chuva por dia, o que se aproxima do que foi visto em Houston com o furacão Harvey neste verão.

Embora as tempestades de Titã sejam muito intensas, elas também são relativamente raras. Elas ocorrem apenas uma vez por ano "titaniano", o que equivale a cerca de 30 anos terrestres. Mesmo que as tempestades no satélite sejam mais raras que as da Terra, ainda são muito mais frequentes do que os cientistas imaginavam. "Eu teria pensado que estes eventos ocorressem uma vez por milênio", disse Mitchell, "então é uma surpresa", completa o professor.
O pequeno satélite Epimeteus e o gigante Titã, maior do sistema saturniano.

Quando Titã recebe uma dessas tempestades colossais, as regiões tipicamente desertas são transformadas em planícies maciças, alimentando rios que eventualmente fluem para grandes lagos e mares, conforme Mitchell. À medida que o dilúvio flui sobre a superfície de Titã, sedimentos são depositados nas terras baixas, tomando formas características de cone chamadas de leques aluviais ou cone de dejeção. Os cientistas encontraram uma correlação entre a precipitação extrema de Titã e as recentes detecções desses leques aluviais, indicando que as formas foram resultado de fortes inundações de tempestades.

Os cientistas da UCLA observaram que a maioria dos leques em Titã estão espalhados entre 50 e 80 graus de latitude, geralmente concentrados um pouco mais perto das regiões polares do que o equador. Isso sugere que a precipitação no satélite varia de acordo com a região, onde a precipitação abundante tem causando erosão e formação de lagos, enquanto precipitação escassa provoca a formação de dunas.

Embora a precipitação tenha sido mais alta perto dos polos onde a maioria dos mares e lagos de Titã se encontram, as tempestades mais intensas ocorreram em torno da latitude 60°, faixa de maior concentração de leques aluviais, indicando que elas se desenvolvem quando o ar fresco e úmido das latitudes mais altas se encontra com o ar seco e quente das baixas latitudes, da mesma forma como aqui na Terra.

De acordo com Seulgi Moon, professor assistente de UCLA de geomorfologia e coautor do estudo, os resultados mostram que as intensas chuvas de metano podem modificar substancialmente a superfície de Titã, um princípio que provavelmente também se aplica a Marte (que possui seus próprios grandes leques aluviais) bem como outros corpos planetários.

Ao estudar como as chuvas influenciam as superfícies planetárias, os pesquisadores esperam entender melhor como certos padrões climáticos podem alterar o clima geral de um planeta ou satélite e até sua habitabilidade. E, embora o modelo das monções de metano possa não ser diretamente aplicável ao nosso planeta, quanto mais entendermos sobre climas estranhos, mais estaremos equipados para abordar as mudanças climáticas aqui na Terra.

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