Nebulosas

29 de novembro de 2015


Observar o céu é uma atividade prazerosa. Ver as estrelas "passeando" pelo escuro e seu pequeno deslocamento a cada noite. De posse de um instrumento de aumento podemos ver detalhes, no entanto ficamos restritos a minúsculas frações da abóbada celeste. Também há objetos (e são a maioria deles) que não podemos ver nem com nossos telescópios amadores. Grande parte das nebulosas estão além da nossa capacidade visual. Mesmo um bom telescópio refletor de 150 mm não mostra mais que manchas difusas de médio brilho destacadas do fundo negro espacial.

Com o lançamento do Telescópio Espacial Hubble, novas imagens com imenso poder de resolução têm sido cada vez mais comuns. O Hubble já fotografou de tudo, mas o que mais nos encanta são as nebulosas. assim como nossas nuvens nos faz navegar na imaginação, as nebulosas produzem efeitos semelhantes, aliadas a cores e contraste de luzes com escuridão típicos do espaço sideral, belas "pinturas" como se desenhadas intencionalmente estrelam esse texto.


CARACTERÍSTICAS GERAIS

Nebulosas são nuvens gigantescas de poeira, gases e plasma. Inicialmente o termo se referia a qualquer astro não pontual sem limites definidos, como as galáxias, mas com o avanço dos telescópios em conjunto com a matemática, pudemos separá-las. Seus principais constituintes gasosos são hidrogênio e hélio, os dois elementos mais abundantes no universo e podem atingir centenas de anos-luz de diâmetro.

Em geral, são locais de formação de estrelas. Em um dado local dentro da nebulosa, poeira acumulada une-se por interação gravitacional, atraindo mais poeira e gás. Depois de milhões de anos acumulando matéria, a pressão se torna enorme fazendo a temperatura interna aumentar e o gás brilhar, temos a protoestrela que, depois de mais alguns outros milhões de anos, se torna uma estrela de fato, mas detalhes e modos de formação estelar não é foco neste momento.

As nebulosas recebem nomes variados, normalmente tenta-se associar alguma característica visual ou constitutiva. Como exemplo disso temos, abaixo, Nebulosa Cabeça de Cavalo.

A nebulosa que abre essa postagem é parte de uma maior, mas tem como nome Os Pilares da Criação. Mas assim como os animais têm nomes científicos e as constelações têm nomes latinos, esses objetos também têm uma nomenclatura que permita ser usada de forma universal. Aí chegamos a um novo problema: há vários catálogos de objetos do espaço profundo e cada um deles com seus nomes - códigos.

O Catálogo Messier, criado por Charles Messier no século XVIII, possui 110 objetos entre nebulosas, galáxias (consideradas nebulosas na época) e aglomerados estelares.

Acima temos a Nebulosa do Caranguejo, restos de uma supernova recente, Messier a chamou de M1. O New General Catalogue (NGC) é mais recente, compilado aos finais do século XIX, contém mais de 7800 objetos. A mesma nebulosa acima neste catálogo se chama NGC 1952. Ainda tempos o Catálogo Gum e o RCW, este quase exclusivo para nebulosas. Daí vê-se a dificuldade em encontrar um meio único de nomear os astros. Nesse texto usaremos os nomes populares, colocando entre parênteses o nome oficial.


CLASSIFICAÇÃO

As nebulosas se dividem em quatro tipos principais. Podem ser de emissão, de reflexão, escuras e planetárias.

Nebulosas de emissão

São nuvens de gás ionizado em alta temperatura. Os átomos que a compõe estão energizados devido receberem radiação de uma fonte próxima, em geral estrelas jovens que se formaram dentro da própria nuvem ou perto dela. Os átomos perdem elétrons ao receber uma determinada dose de energia, tornando-se íons. Mas como são instáveis, logo recuperam seus elétrons perdidos, liberando de volta a energia na forma de luz.

A cor da nebulosa é devida ao elemento que é ionizado, normalmente o hidrogênio, pois é o mais abundante do universo. Esse elemento produz cores vermelhas. Dependendo da quantidade de radiação recebida, outros tipos de átomos poder sofrer ionização como oxigênio, hélio e nitrogênio. Ver exemplos abaixo.
Nebulosa da Lagoa (M8 ou NGC 6523)
A famosa Nebulosa de Órion (M42 ou NGC 1976)

Nebulosas de reflexão

Formadas por poeira, apenas refletem a luz de estrelas próximas, pois não tem temperatura suficiente para ionizar os gases que a compõem. Entre seus constituintes estão ferro, níquel e pó de diamante. Normalmente se apresentam azuis, pois esta cor tem uma dispersão mais eficiente que as demais (mesmo efeito do nosso céu).

É comum serem observadas junto com nebulosas de emissão, formando coloridos maravilhosos, como a Nebulosa de Órion acima, um misto de reflexão com emissão. Também são considerados berçários estelares, pois são fontes de formação de estrelas. Alguns exemplos abaixo.
Aqui temos três nebulosas de reflexão NGC 1977, NGC 1975 e NGC 1973

Nebulosa Cabeça de Bruxa

Nebulosas escuras

Tratam-se de nebulosas onde há muita concentração de poeira, a ponto de bloquear a luz de nebulosas brilhantes e estrelas que ficam atrás dela. São identificadas pelo contraste do céu em torno delas, criando manchas escuras em contraste com o brilho de fundo da Galáxia. O exemplo mais famosa delas é a Nebulosa Cabeça de Cavalo, que está representada mais acima nesse texto. Abaixo temos outro destaque, a Nebulosa Saco de Carvão, visível a olho nu na constelação do Cruzeiro do Sul.

Nebulosas planetárias

Apesar de nada ter haver com planetas, esse tipo de nebulosa ganhou esse nome pelo fato que ao serem descobertas sua aparência aos telescópios do século XVIII lembrava os planetas gasosos como Júpiter.

As nebulosas planetárias na realidade são restos de uma estrela gigante nos fins de sua vida. Tais estrelas ejetam suas camadas externas sobrando um pequeno núcleo de brilho intenso, o qual ioniza camadas ao seu redor fazendo-as brilhar, como um espectro de emissão. Muitas delas têm aparências impressionantes como algumas abaixo.
Nebulosa da Hélice (NGC 7293)

Nebulosa do Esquimó


MAIS ALGUMAS NEBULOSAS INTERESSANTES

Nebulosa do Bumerangue

Localizada a "apenas" 5.000 anos-luz da Terra, a Nebulosa do Bumerangue é do tipo planetária, mas ainda em formação. Seu nome tem origem na sua primeira observação em 1980, onde, devido à resolução dos aparelhos da época, tem seu formato lembrando um bumerangue. Ela é uma grande peculiaridade, pois se trata do objeto mais frio conhecido no Universo com temperatura de 1 K (-272 °C), portando abaixo da radiação cósmica de fundo.

Nebulosa Trífida

Na direção da constelação de Sagitário temos a Nebulosa Trífida ou M20. Descoberta em 1750, fica a cerca de 5.500 anos-luz da Terra. Sua idade é estimada em 300 mil anos, indicando ser uma jovem zona de formação estelar. Seu nome significa "dividida em três lóbulos" e nela estão presentes nebulosas e emissão como de reflexão.

Nebulosa Olho de Gato

NGC 6543 é uma nebulosa planetária que fica na direção da constelação de Dragão. São os estágios finais de uma estrela semelhante ao Sol. Sua magnitude aparente é 8,1 e, devido ao seu formado, há indícios que no centro haja uma estrela binária.

Nebulosa do Ovo Podre

Na direção da constelação de Popa algo cheira mal. A Nebulosa do Ovo Podre tem esse nome por ter uitos compostos sulfurosos presentes em sua constituição. Compostos semelhantes aos presentes em ovos estragados. Tem quase 1,5 ano-luz de comprimento e é uma nebulosa planetária em formação.

Nebulosa do Haltere

Jovem e próxima nebulosa. Com cerca de 10 mil anos de existência e 1.200 anos-luz, a Nebulosa do Haltere ou M27 foi a primeira nebulosa planetária descoberta, em 1764 por Charles Messier.

Nebulosa do Homúnculo

Ao redor da temida Eta Carinae temos uma nebulosa bipolar (sem trocadilhos) que na realidade é parte de uma maior a Nebulosa de Carina ou Eta Carinae. Esta é uma das maiores nebulosas difusas do céu: quatro vezes maior que a Nebulosa de Órion.

Nebulosa do Colar

Esta belíssima formação com 19,3 trilhões de quilômetros de largura teve origem em uma estrela binária onde a companheira maior "engoliu" a menor e esta, ainda girando no interior, lançou pedaços da estrela faminta ao espaço formando uma estrutura circular.

Nebulosa do Cone

Da direção da constelação do Unicórnio e a cerca de 2.600 anos-luz temos essa incrível formação. Ela faz parte de uma nebulosidade maior: o Aglomerado Árvore de Natal. Essa nebulosa lembra grosseiramente as mãos em posição de oração, por isso também é chamada de Nebulosa de Jesus Cristo.

Nebulosa da Águia

M16 ou NGC 6611 é um jovem conjunto de gás e poeira situado a 7 mil anos-luz da Terra. Dentro dela temos a formação que abre esse texto, Os Pilares da Criação, um verdadeiro berçário de estrelas. A maior dos pilares tem 7 anos-luz de comprimento. O aglomerado de estrelas associado à nebulosa é um dos mais brilhantes conhecidos: -8,2 de magnitude absoluta.

Nebulosa da Ampulheta

Mais uma estrela está a morrer. Assim como o nosso Sol morrerá, a estrela no centro dessa magnífica imagem passa pela sua agonia. Os anéis vermelhos são as camadas externas da estrelas sendo ejetadas e ao centro uma anã branca em formação.

Nebulosa da Formiga

Descoberta em 1922, esse artrópode espacial tem um formato nada normal para uma nebulosa planetária, acredita-se que a rápida rotação da estrela enrole seu fortíssimo campo magnético distorcendo sua emissão de partículas carregadas (equivalente ao vento solar).

Nebulosa do Coração

Para os apaixonados se declararem à pessoa amada: a mais de 7.000 anos-luz há uma nebulosa de emissão que fica em Cassiopeia, um verdadeiro mar de plasma de hidrogênio com elétrons livres. Ou podem simplesmente mostrá-la e dizer: te amo.

Nebulosa Asas de Borboleta

Por anos esta nebulosa foi o símbolo principal deste blog, ainda aparece como favicon em alguns navegadores, veja. Mora em Ofiúco a cerca de 2.100 anos luz da Terra. São os restos finais de uma estrela binária. Os ventos estelares alcançam 320 km/s.

Nebulosa Borboleta

O número de nebulosas é enorme. Essa postagem teria de ter o quádruplo do tamanho atual para citar pelo menos as mais famosas e belas, sem falar das nebulosas escuras e outras de menor glamour. Portanto encerraremos com esta que é nossa capa.

A Nebulosa Borboleta é uma nebulosa planetária bipolar que fica na direção da constelação de Escorpião. Seu nome oficial é NGC 6302 e foi descoberta em 1888. Em seu centro temos um dos objetos mais quentes da Galáxia com mais de 200 mil Kelvins, mesmo assim sua estrela interior (anã branca) foi fotografada apenas recentemente, em 2009. Por mais incrível que pareça, dentro desse imenso mar gasoso já foram detectados hidrocarbonetos e até água gelada.

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