Uma viagem pela órbita terrestre

19 de março de 2015


Há séculos que o homem sonha em viajar pelo espaço e descobrir novos mundos, nos últimos anos naves têm levado um seletíssimo número de astronautas à Lua e Marte parece estar a menos de uma década de ser tocado por mãos humanas.

O que é ignorado pela maioria da população, é que nosso planeta é uma verdadeira espaçonave nos conduzindo numa viagem de um ano em torno do Sol, é claro que essa viagem não nos levará a outro planeta ou estrela, pois tal evento destruiria nosso mundo, mas não deixa de ser um verdadeiro passeio repleto de belas paisagens dignas de fotografia e, como em toda viagem, com alguns trechos perigosos.



MALAS PRONTAS?


Nossa “nave” viaja rápido, cerca de 29,78 km/s, mesmo assim a turnê em volta do astro-rei durará 365 dias e 6 horas, pois teremos um longo trajeto elíptico pela frente, aproximadamente 942 milhões de quilômetros. Então, todos a bordo! Ou, todos em órbita!


1 DE JANEIRO

Começamos nossa viagem, saímos de um ponto particularmente comum. O dia primeiro de janeiro, astronomicamente, não tem nada de especial, trata-se de uma escolha humana, mas precisamente um decreto do imperador romano Júlio César, que fixou o dia 1 de janeiro como dia do Ano-novo em 46 a. C. Nesse dia os romanos cultuavam Jano, deus dos portões, derivando dele o nome janeiro. O calendário romano (ou juliano, após as reformas do mesmo imperador) serviu de base para o calendário gregoriano, usado no mundo ocidental. 


4 DE JANEIRO

Chegamos à primeira parada de nosso passeio, estamos no periélio, ponto da órbita da Terra mais próximo do Sol, ficando “somente” 147,1 milhões de quilômetros de nossa estrela, aqui, portanto, sentimos sua atração gravitacional com mais intensidade. Por coincidência, nesta data nasceu, em1643, o físico britânico Isaac Newton, conhecido, entre outras coisas, por desenvolver a Teoria da Gravitação Universal. Nossa espaçonave Terra atingiu sua maior rapidez, agora ela irá lentamente desacelerar, mas mantendo sempre uma fantástica velocidade.


20 E 21 DE MARÇO

Mais uma parada, agora para medirmos a duração do dia e da noite, o que encontramos? Tempo iguais! O que significa isso? Estamos no equinócio. Neste ponto ocorrem mudanças nas estações, começa a primavera no hemisfério norte e o outono no hemisfério sul. Mais precisamente é o ponto no qual o plano da eclíptica cruza com o planto do equador celeste. (Ver Os Movimentos da Terra).




21 DE ABRIL A 12 DE MAIO

Nesse ponto da viagem nos deparamos com uma interessante paisagem, são as Eta Aquáridas. Trata-se de uma chuva de meteoros que sempre ocorrem nesse período do ano, cujo pico de intensidade se dá nas noites de 5 e 6 de maio. Esta chuva está associada ao cometa Halley, pois o mesmo cruza a cada 76 anos órbita terrestre neste lugar deixando uma infinidade de partículas de poeira e outros fragmentos. Quando a Terra avança sobre essa cortina de restos cometários, um grande número deles é atraído pela gravidade e incinerado pela atmosfera, provocando o belo efeito das estrelas cadentes.

Mapa celeste enfocando o radiante das Eta Aquáridas

Possuem o nome de Eta Aquáridas porque o radiante, ou seja, a aparente “fonte” das estrelas cadentes localiza-se na constelação de Aquário. Em média, 30 meteoros por hora podem ser vistos no hemisfério sul e 10 no hemisfério norte, porém ocorrem uma hora antes do nascer do Sol, o que faz o espetáculo ser curto, mas são conhecidas por deixarem rastros luminosos persistentes, durando mais de 1 segundo. Não se preocupe! Nossa nave não será danificada, as estrelas cadentes se desintegram antes de atingirem o solo.


21 DE JUNHO

Mais uma vez é hora de mudarmos de estação, para quem está no hemisfério norte começa o verão e o inverno para quem mora na parte austral do globo. É o solstício, nesse momento nossa espaçonave está com o Polo Norte voltado ao Sol, lá teremos o famoso Sol da meia-noite, são semanas consecutivas de luz, ao contrário do Polo Sul que terá noites longas, pois o Sol no máximo “raspará” por baixo a linha do horizonte.


PARADA PARA DESCANSO

Agora estamos no meio do ano, mas cabe aqui uma breve pausa no percurso, não que haja um grande evento agora, mas uma ocorrência que não tem data fixa, mas razoável regularidade, são os eclipses. Tratam-se de ocultações de astros por outros astros. Em nossa viagem nos interessa os eclipses solares e lunares. A órbita lunar está inclinada em relação ao plano da órbita terrestre, mas se cruzam em dois pontos, a linha dos nodos. Quando o Sol está nessa linha ocorrem os eclipses. Veja o esquema abaixo.


Os eclipses solares (mais famosos e belos) são aqueles em que a Lua encobre nossa estrela, estes podem ser totais (encobrem por completo), parciais (apenas partes do Sol fica encoberta) e anulares (coincidem com apogeu lunar, o Sol é visto como um anel, com seu interior coberto).

 

Foto do (raro) eclipse anular

Por outro lado quando a Lua passa por “trás” da Terra, temos os eclipses lunares. Nessa situação, nosso satélite fica na sobra terráquea, mas não a ponto de “desaparecer”, apenas terá uma redução de brilho e uma tonalidade avermelhada (lua de sangue, como alguns conhecem) devido a refração da luz solar na atmosfera terrestre, onde apenas os raios avermelhados atravessam e iluminam a Lua.


Eclipse da Lua, ou lua de sangue

Outra situação interessante em nossa viagem é podermos ver nosso caminho, isso mesmo! Quando a Lua estiver em quarto crescente, a meia Lua, ela nos mostrará nosso caminho percorrido. Olhe para a meia Lua, é lá que estávamos a quatro horas atrás. Cerca de duas semanas depois, olhe de novo para a meia Lua minguante (ou decrescente) é lá que estaremos em quatro horas. 

Pronto para voltar à estrada? Então vamos lá!


4 de JULHO

Chegamos ao ponto de menor velocidade da nossa viagem, pois atingimos o afélio, o ponto orbital mais distante do Sol, nesse momento estamos a 152,1 milhões de quilômetros da nossa estrela, daqui em diante seguiremos numa progressiva aceleração. 


8 A 14 DE AGOSTO 

Mais uma vez é hora de olhar para o céu, mais precisamente para a constelação de Perseu. Onde veremos as Perseidas, uma farta chuva de meteoros cujo radiante está na referida constelação. Nesses dias, a Terra atravessa o rastro da chamada nuvem perseida, fragmentos do cometa Swift-Tuttle que cruza a órbita terrestre nesse período do ano. Ao final de julho, já se podem ver algumas estrelas cadentes, mas o pico ocorre em 12 de agosto, a taxa pode ultrapassar 60 estrelas cadentes por hora. São mais visíveis no hemisfério norte.


Perseida vista do espaço


22 OU 23 DE SETEMBRO

Aproximadamente 6 meses depois, temos novamente um dia com mesmo número de minutos de luz e escuridão, chegamos em outro equinócio. No hemisfério norte começa o outono, no sul inicia a primavera.


15 A 29 DE OUTUBRO

Nossa viagem, que estava meio pacata, nos leva a admirar mais um espetáculo no céu. São as Oriônidas, uma chuva de meteoros que parecem sair da constelação de Órion, o caçador. Seu pico de intensidade ocorre geralmente entre 20 e 22 de outubro. Agora é a vez de o hemisfério sul ser agraciado, pois é mais visível nessa parte do planeta, com cerca de quarenta meteoros por hora. Assim como as Eta Aquáridas, têm origem nos detritos do Cometa Halley.


13 A 18 DE NOVEMBRO

Leônidas vistas do espaço

O passeio está bem animado, mais ainda porque chegamos à data das Leônidas. Desta vez não é uma chuva de meteoros como as anteriores, mas provavelmente a mais generosa de todas. Seu pico máximo está nas noites de 17 e 18 de novembro e estão associadas ao cometa Tempel-Tuttle com período de 33 anos.

Normalmente atinge uma taxa de 10 meteoros por hora, inferior às Perseidas, Eta Aquáridas e Oriônidas, mas a cada 33 anos (nas passagens do cometa) ocorre um aumento extraordinário chegando a milhares de meteoros por hora. Segundo relatos da época, no ano de 1833 ocorreu uma das maiores chuvas de meteoros da história, as pessoas foram acordadas em plena madrugada pelos gritos de euforia e medo dos que observavam, foram milhares de estrelas cadentes por minuto!

Gravura das Leônidas de 1833


6 A 18 DE DEZEMBRO

Mais uma chuva de meteoros à vista. A última de destaque no ano, as Gemínidas. Seu radiante, na constelação de gêmeos, emite de 50 a 80 meteoros por hora no hemisfério norte e cerca de 20 no lado sul, pois aqui é visto próximo da linha do horizonte.


21 OU 22 de DEZEMBRO

Estamos na última parada de nossa viagem, chegamos ao segundo solstício. É início do inverno no hemisfério norte e do verão no sul. Nesse dia, o Sol incide sobre o Trópico de Capricórnio, no solstício de junho incidia sobre o Trópico de Câncer.


31 DE DEZEMBRO

Assim como começou, nossa viagem termina num ponto comum, sem espetáculos no céu (exceto pelos fogos do réveillon). Durante este passeio além dos eventos citados as constelações se sucederam, Vênus e Júpiter brilharam mais que qualquer estrela, a Estação Espacial Internacional e o Telescópio Espacial Hubble cruzaram o céu como OVNIs causando espanto e admiração, e a Lua como uma verdadeira escudeira nos acompanhou, fez a nave sacudir, nos iluminou e até atrapalhou observações mais minuciosas. 


FIM DA VIAGEM?

Nosso passeio se trata de uma viagem sem fim, onde sempre um novo ano se inicia, um novo tour para quem perdeu algo. A Terra, que a bilhões de anos faz este percurso, ainda terá outras bilhões de oportunidades de mostrar aos que virão e que quiserem contemplar a maior excursão que existe, de forma gratuita e simples, basta olhar para o céu.


Um comentário:

A Terra vista da Estação Espacial Internacional