Lua, nossa companheira

26 de abril de 2013

 

“Fim de tarde
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite
Desmetaforizada,
Desmistificada,
Despojada do velho segredo de melancolia
Não é agora o golfão das cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão somente
Satélite.
Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si
Satélite.”


Apesar de a Lua estar muito ligada aos sentimentos e aos mitos do imaginário popular, nesse poema ela é retratada da forma do que é de verdade: um satélite. Aqui também abordaremos a Lua como um satélite, mas nada que tire a beleza e os sonhos que ela provoca.


CARACTERÍSTICAS GERAIS

Existem mais de 150 satélites pelo sistema solar, Júpiter é o recordista com mais de 60. A Terra foi “presenteada” com apenas um: a Lua. Ela não é o maior dos satélites, tem 3470 km de diâmetro contra os 5260 km de Ganímedes de Júpiter, mas é o maior em relação ao seu planeta com mais de 1/4 do tamanho da Terra, embora sua gravidade seja 1/6 da terrestre. Sua distância média da Terra é de 384.405 km, variando de 356.577 km no perigeu (posição de maior proximidade) a 406.655 km no apogeu (ponto mais distante). Isso é muito quando comparamos com a altitude de nossos satélites e outros objetos lançados pelo homem, a Estação Espacial Internacional orbita nosso planeta numa altura que varia de 330 a 435 km, o famoso telescópio Hubble fica a “apenas” 560 km. No entanto, em dimensões astronômicas, nosso satélite natural está praticamente “encostado” em nós, pois o segundo astro mais próximo é Vênus e este, no momento em que ocorre a maior proximidade, fica a mais de 40 milhões de quilômetros e o Sol, como já se sabe, a 150 milhões. Logo, a Lua é bem ali.

A Lua não possui campo magnético bipolar, como o geodínamo terrestre, mas apresenta magnetização da crosta em locais esparsos, mais fortes nos antípodas o que reforça a teoria de um antigo campo de origem interna.


Sua atmosfera é escassa ao ponto de ser quase um vácuo e parte dela tem origem na pulverização catódica, quando os íons carregados do Sol atingem os átomos das rochas lunares e "arrancam" elementos, fato comprovado pela detecção de sódio e potássio nessa camada gasosa. O resto da atmosfera é explicada pela desgaseificação, gases presos em rochas que são liberados.


A ORIGEM DA LUA

Existem algumas hipóteses para explicar a origem de nosso satélite. Uma delas diz que nosso planeta, quando ainda era uma massa incandescente e pastosa, girava tão rapidamente que desprendeu um pedaço que, preso pela gravidade, esfriou e se tornou a Lua.

Outra muito aceita afirma que nos primórdios da existência da Terra um corpo imenso (talvez um planeta do tamanho de Marte) tenha se chocado contra o nosso desintegrando-se, mas provocando expulsão de pedaços de rocha líquida, após isso, presos pela gravidade terrestre, esses pedaços se aglutinaram e solidificaram formando a Lua.
 

Essas duas hipóteses são sustentadas por análises de rochas lunares trazidas pelas missões Apollo. Verificou-se a similaridade da sua composição quando comparada com rochas terrestres. Então, seria a Lua “filha” da Terra? É muito provável que sim.


SEUS EFEITOS NA TERRA


A Lua a principal responsável pelos efeitos de maré que ocorrem na Terra, em seguida vem o Sol com uma participação menor. A Lua atrai a enorme massa líquida dos oceanos elevando-os levemente, com a rotação os continentes avançam sobre a “montanha de água presa” pela gravidade lunar, daí tem-se a impressão que foi a água que investiu sobre a praia, chamamos isso de maré. O efeito é potencializado na Lua Nova, pois nesse período Lua e Sol se alinham e as forças de atração sobre os oceanos se somam. Veja as fotos abaixo feitas em São Luís capital do Maranhão na maré alta e na baixa.
Maré alta
Maré baixa
Esse jogo de forças produz outro efeito importante. Mesmo essa água sendo atraída pela Lua, o planeta, em sua rotação, “empurra” e vence essa barreira aquática, porém o atrito prova uma redução da velocidade da rotação, deixando o dia mais longo em 0,002 s por século. E mais, esse freio na revolução terrestre empurra a Lua para uma órbita mais alta (uma transferência de energia), cerca de 3 cm por ano.

O mesmo efeito já ocorreu na Lua. Apesar de não ter água no estado líquido, a face lunar voltada para a Terra é mais fortemente atraída que o lado oposto, com isso sua rotação foi travada, por isso que a Lua sempre mostra a mesma face para nós.

Nosso satélite também afeta a rotação terrestre. O efeito de sua gravidade perturba o eixo imaginário de nosso planeta, fazendo com que o mesmo oscile em zigue-zagues longitudinalmente e lateralmente, num movimento conhecido como nutação.
As "ondas" em vermelho são o movimento de nutação


A SUPERFÍCIE DA LUA

Fotografia feita por um telescópio de 180 mm usando uma câmera de 8 megapixels.

Como já foi dito, a Lua tem sua rotação “segurada” pela Terra tendo seu o período coincidindo com o de translação, com isso sempre vemos a mesma face. E a face oposta? Esta só foi conhecida após os avanços tecnológicos que permitiram o envio de sondas para fotografá-la, antes havia apenas especulações muitas delas absurdas como a que diz que ela era habitada por “homenzinhos lunares”. A seguir temos duas fotos a da esquerda é a face conhecida sempre visível, a da direita o chamado “lado oculto da Lua”.
Lado visível

  
Lado oculto
Como se vê nas imagens, o lado oculto é completamente coberto por crateras, já o lado lunar visível da Terra, embora cheio de marcas, é menos agredido, inclusive com enormes planícies. Isso se explica pelo fato que o lado que está de frente para a Terra é protegido de boa parte dos asteroides, pois serão atraídos para cá, devido à maior atração gravitacional. Já o lado oposto não recebe proteção terrestre sendo constantemente atingida por fragmentos do espaço e como lá não há erosão as marcas não se desgastam, permanecerão se acumulando.

Apesar de ter sua rotação e translação em sincronia, a ponto de nos privar de observar diretamente o lado posterior, a Lua apresenta um balanceio especial, a libração (ver ao lado). Na realidade, não é um movimento, mas o fato da órbita lunar em torno da Terra não ser circular, ou seja, ser excêntrica, faz com que mude o ângulo sob o qual é observada, permitindo que seja possível observar até 59% da superfície total da Lua, claro, não ao mesmo tempo.


A face visível da Lua apresenta regiões escuras e claras. As escuras são chamadas de mares e as claras são os continentes. Mas essa denominação nada tem haver com aquela que conhecemos na Terra. Os primeiros astrônomos ao observar as regiões escuras da Lua imaginavam que deviam se tratar de oceanos, por isso chamaram de mares, depois com os avanços dos instrumentos astronômicos, os astrônomos verificaram que não havia água líquida nessas regiões, mas como eram imensas áreas planas semelhantes à superfície de um líquido, o nome “mar” e, consequentemente, o termo “continente” ficaram.
Os mares são escuros devido à presença de basalto, rocha de origem vulcânica, por isso deduz-se que a Lua apresentava vulcões ativos em um passado distante. Esses vulcões produziram mares de lava, que se solidificaram formando as planícies de basalto, os mares. Os continentes são brilhantes pela presença de feldspato, rocha que reflete bem a luz. A seguir um mapa de alguns mares e crateras com seus respectivos nomes.
Os pontos em amarelo são os locais de pouso das missões Apollo com o respectivo nº da missão.



AS FASES E OS ECLIPSES

Como já se sabe, a Lua, em sua trajetória em volta da Terra, nos apresenta sempre a mesma face, porém vemos que sua aparência muda de uma noite para outra: são as fases. Quando a Lua passa entre a Terra e o Sol é a Lua Nova, quase não é vista no primeiro dia, mas nos dias seguintes ela aparece como um sorriso ou um “c” de boca para cima. Após aproximadamente 7 dias temos a meia Lua, início do quarto crescente. É nesse momento que a Lua cruza a órbita de Terra, nos dando uma ideia de nossa trajetória pelo espaço. Olhe para a meia Lua, é lá que estávamos a três horas e meia atrás. Mais 7 dias e o quarto crescente tornou-se Lua cheia, agora ela está em oposição ao Sol. Nessa fase ocorre a máxima intensidade do luar, o reflexo da luz solar que a Lua nos envia. Aos poucos a Lua cheia vai diminuindo, mais 7 dias temos o quarto minguante e novamente uma meia Lua mostrando, agora, o caminho que iremos seguir no espaço. Olhe para a Lua em quarto minguante, é lá que estaremos em três horas e meia. Depois disso a Lua “minguará” cada vez mais e após 7 dias desaparecerá. Será Lua nova de novo, a volta em torno da Terra está completa.
A órbita da Lua tem uma ligeira inclinação em relação à da Terra, isso faz com que durante a Lua nova ela passe acima ou abaixo do Sol. Mas geralmente em junho e em dezembro, as órbitas ficam no mesmo plano, ocorrem os eclipses.

Eclipses são fenômenos que ocorrem quando o Sol, a Terra e Lua estão alinhados. Quando a Lua se posiciona entre a Terra e o Sol ocorre o eclipse solar. A Lua geralmente oculta uma parte do Sol. Para que a ocultação seja completa é necessário que a Lua esteja no periélio, teríamos assim um eclipse total do Sol. Nessa situação a largura da região sem luz pode atingir 270 km e ficar no escuro por 7 minutos, sendo possível ver o céu estrelado de dia.
Eclipse solar em 1999

Quando a Lua cheia entra no imenso cone de sombra produzida pela Terra temos o eclipse lunar. A Terra agora situa-se entre a Lua e o Sol. Normalmente um eclipse lunar ocorre 15 dias antes ou depois de um eclipse solar. E diferente deste, um eclipse lunar pode ser visto em toda face noite da Terra e com maior tempo de duração.

No eclipse lunar a Lua não desaparece, mas assume uma coloração avermelhada ou alaranjada. Isso é consequência da refração e da dispersão da luz do Sol na atmosfera da Terra que desvia apenas certos comprimentos de onda para dentro da região da sombra. Esse fenômeno também é responsável pela coloração avermelhada que o céu assume durante o poente e o nascente.

Eclipse lunar


ÁGUA NA LUA?

Segundo descobertas anunciadas pela NASA, conseguidas graças à missão LCROSS (iniciais de Lunar Crater Observationand Sensing Satellite, do inglês, Satélite de Observação e Sensoriamento de Crateras Lunares), foi confirmada a existência de água em estado sólido na Lua. O aparelho carregava um estágio do foguete Centaur, que atingiu a Lua com extrema força de impacto no dia 9 de outubro de 2009, nas proximidades do polo sul lunar.

Um buraco de 30 metros de largura foi aberto, onde foram encontrados quase 100 litros de água congelada. Analisada pelo satélite LCROSS, a nuvem de vapor e poeira fina resultantes também revelou o local com fonte de grandes quantidades de hidrogênio. A experiência faz com que os cientistas acreditem na possibilidade de haver mais água espalhada por todo o subsolo lunar do que se poderia imaginar. O satélite natural da Terra agora começa a ser encarado seriamente como terreno para a construção deuma base espacial que serviria de apoio para missões tripuladas a outros planetas do Sistema Solar.


MAIS IMAGENS DA LUA

 

 

cratera Arquimedes
cratera Copérnico

cratera Daedalos

Um comentário:

  1. A Lua exerce um fascínio enorme nas pessoas, muito bom saber mais sobre este astro magnífico...

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A Terra vista da Estação Espacial Internacional