25 de setembro de 2017
Pioneirismo, recordes, imaginação e uma mensagem na garrafa. Um brevíssimo resumo romântico do que foi (e ainda é) o Programa Voyager. Nascida do Programa Mariner, mas que se tornou a versão reduzida do Planetary Grand Tour ainda nos anos 60, tinha como objetivo a visita aos planetas exteriores do Sistema Solar.
As sondas foram lançadas em um foguete, cuja massa era mais de 80% apenas combustível, tudo para que pudessem chegar a Júpiter, a partir daí elas usariam a gravidade dos planetas para o resto da missão. A Voyager 2 lançada em 20 de agosto de 1977 de Cabo Canaveral, Flórida, viajou por Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
A sonda Voyager 1 foi lançada mais tarde, em 5 de setembro de 1977, mas usou uma trajetória mais favorável para atingir Júpiter e Saturno, o que a fez atingir seus objetivos mais rapidamente. Sendo hoje o objeto construído pelo homem mais distante da Terra e mais rápido que qualquer outro. Tal trajetória, no entanto, impediu que ela explorasse Urano e Netuno, ficando para a Voyager 2 essa função.
TECNOLOGIA E MÚSICA
As sondas pesam 721,9 kg e possuem 3 sistemas de comando aos pares (principal e reserva). O Computer Command System é o módulo central de comando, cumprindo as instruções enviadas da Terra, controlando os dois outros sistemas e corrigindo erros automaticamente. O Flight Data System controla, coleta e trata os dados obtidos pelos instrumentos científicos, além de ser responsável pela telemetria. Por último, o Attitude and Articulation Control System manobra a nave, faz correções em trajetórias e direciona os instrumentos de pesquisa, para isso a sonda dispõe de tanques de hidrazina para propulsões.
O arsenal científico da Voyager compõe de um magnetômetro, detector de raios cósmicos, detector de ondas de plasma, detector de partículas de baixa energia, detector de ventos solares, um espectrômetro de ondas ultravioleta, um interferômetro e espectrômetro em infravermelho e um fotopolarímetro. Durante a produção deste texto, os quatro primeiros equipamentos citados ainda estavam funcionais em ambas sondas.
Todo esse super laboratório esteve e ainda está funcionando devido a três geradores termoelétricos de 39 kg cada alimentados pelo decaimento do plutônio-238, mas a energia gerada tem se reduzido com o tempo, assim alguns equipamentos foram desligados para garantir maior sobrevida a Voyager.
A comunicação com a Terra se dá pela Antena de Alto Ganho, com seus 3,7 m de diâmetro, enviando e recebendo sinais de antenas terrestres localizadas na Califórnia (EUA), Madri (Espanha) e Canberra (Austrália), de modo que sempre uma antena permaneça apta a receber e enviar dados.
Embora o foco principal tenha sido o grande passeio pelos planetas gigantes, a missão secundária das sondas era deixar o Sistema Solar e aventurar-se pelo meio interestelar. Não só isso, elas carregam uma mensagem da humanidade para alguém ou alguma civilização que possa encontrar saberem onde estamos e o que somos. Os Discos de Ouro da Voyager ou Voyager Golden Record, em inglês, são dois discos fonográficos contendo 115 imagens da Terra e dos planetas próximos e mensagens de saudação em 55 línguas, além de sons naturais como trovão, chuva, ondas no mar, sons de animais, bem como sons humanos como choro de bebê, trens, buzinas, música clássica e canções folclóricas de vários povos.
Capa do disco com instruções de para extrair os sons e imagens, além da localização do Sol em relação as estrelas próximas. |
O disco Sons da Terra |
Colocando o disco na Voyager |
https://soundcloud.com/nasa/sets/golden-record-greetings-to-the
https://soundcloud.com/nasa/sets/golden-record-sounds-of
A VIAGEM
A Voyager 1, apesar de ter sido lançada depois, estava numa trajetória mais favorável atingindo Júpiter 4 meses antes de sua sonda irmã e um ano e oito meses depois ela já sobrevoava Saturno. Milhares de imagens desses dois planetas e de satélites foram enviadas à Terra, detalhes como a Grande Mancha Vermelha de Júpiter e erupções vulcânicas em Io, satélite joviano, puderam ser observados.
Sequência de imagens de Júpiter onde vemos a Grande Mancha Vermelha, a movimentação atmosférica e alguns satélites naturais. |
Erupção em Io |
Reia, satélite de Saturno. |
A Voyager 2, como já dito, teve uma missão mais longa. Ela passeou pelos quatro gigantes, descobriu satélites como os jovianos Tebe, Metis e Adrastea, além de onze pequenas luas em Urano, bem como seu anel. Em agosto de 1989 a sonda chegou em Netuno e estudou seu principal satélite, Tritão. Milhares de imagens, especialmente de Urano e Netuno, dois quais ainda estão entre as melhores até hoje foram obtidas graças a Voyager 2.
Famoso "crescente" de Urano, na despedida deste |
Miranda, satélite de Urano |
Detalhe das rugas em Miranda em fotografia tirada a apenas 35.400 km da superfície. |
Descoberta dos anéis de Netuno |
Nuvens e manchas (furacões) em Netuno |
Foto em alta resolução da superfície de Tritão, satélite de Netuno |
FUTURO
Após a passagem pela órbita de Plutão nos anos 90, iniciou a nova fase da missão: Voyager Interstellar Mission, agora daqui pra frente em terreno desconhecido, onde o Sol é apenas um pontinho pouco mais brilhante que o resto das estrelas, as sondas viajam levando nossas mensagens. Ainda mantemos contato com elas, a Voyager 1 está a 19,4 horas-luz da Terra e a Voyager 2 a 15,97 horas-luz, o que dá quase 21 bilhões e 17,2 bilhões de quilômetros, respectivamente.
A NASA prevê o desligamento de alguns instrumentos que não mais serão necessários onde estão e a expectativa que no decorrer da década de 2020 percamos o contato com elas devido ao esgotamento das baterias.
Se nada as detiver, se espera que a Voyager 1 leve 30.000 anos para emergir da teórica Nuvem de Oort e passará, em 40.000 anos, a 1,6 anos-luz da estrela Gliese 445 da constelação de Girafa. A Voyager 2 chegará ao espaço interestelar entre 2019 e 2020 e em 40.000 anos passará a "apenas" 1,7 anos-luz da estrela Ross 248 da constelação de Andrômeda e em 296.000 anos ficará a 4,3 anos-luz de Sírius, do Cão Maior e mais brilhante estrela de nosso céu noturno. Também é provável que sofram erosão e desgaste físico devido a impactos com minúsculos asteroides de menos de 1 mm de comprimento ou mesmo tenham a trajetória perturbada pela presença de algum astro ainda não descoberto (um planeta-anão escuro talvez).
Mais que instrumentos, as Voyagers carregam um pouco da humanidade, especialmente seus sonhos e sentimentos. Também nos mostraram como somos pequenos dentro do universo. Em 14 de fevereiro de 1990 sob pedidos do astrônomo Carl Sagan a Voyager 1 que estava a 6 bilhões de quilômetros virou sua câmera para trás e tirou uma sequência de 60 fotos. Ela captou nossa família cósmica, o Sistema Solar.
Aqui só não saiu Mercúrio (por estar muito perto do Sol), Marte (pelo espalhamento da luz por trás) e Plutão (não refletia luz suficiente). Foram usados filtros diversos para obter a melhor imagem de cada astro.
A Terra, por ironia do destino, saiu desfocada e perdida em um reflexo luminoso nas lentes, um pálido ponto azul. Esta foto ganhou repercussão pela demonstração de fragilidade do nosso mundo, quão pequeno comparado a soberba e ignorância humana. Parafraseando Sagan, este grão de poeira é nossa casa, então devemos cuidá-la, porque tão cedo, não sairemos daqui.
No centro, à direita: nossa Terra |
FONTE DE APOIO
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