A escolha de um telescópio

29 de julho de 2011

Para você que tem curiosidade de observar o céu noturno, quer ampliar seu campo de exploração para além de seus olhos e pensa em comprar ou fazer um telescópio, tenha em mente algumas interrogações:


1. O que pretendo ver? (pense com lógica, não responda "planetas extra-solares")

2. Quanto posso gastar?

3. Qual o telescópio conveniente para ver o que desejo? O de maior aumento possível ou o de abertura maior? Refletor ou refrator?

Não caia na conversa de fabricantes que superpotencializam o poder de seus produtos. Os exemplos mais comuns são de telescópios refratores de 60 mm e de 80 mm com ampliação de até 450x. Para você se proteger desses enganadores e para você que pretende construir um telescópio fique atento, aí vai algumas considerações.

O mais importante em um telescópio é a QUALIDADE DE SUAS LENTES/ESPELHOS, das oculares e o DIÂMETRO DE ABERTURA, que é diretamente responsável pela qualidade, resolução e luminosidade da imagem vista.

Um telescópio de 50 mm com nitidez na imagem pode revelar mais detalhes com um aumento de 40 x que um de 100 mm se utilizado num aumento de 525 x como os lojistas argumentam.

O aumento máximo COM NITIDEZ que um telescópio poderá obter é calculado multiplicando o diâmetro de sua objetiva, em milímetros, por 2. Alguns autores afirmam que a multiplicação deva ser por 2,5, mas corre-se o risco de extrapolar o valor ideal. Por exemplo: um telescópio com uma objetiva de 60 mm tem capacidade de aumentar objetos em até 120 vezes. Note, este é o máximo de aumento com imagens nítidas, pois pode-se, com uma combinação de lentes, utilizá-lo num aumento de 450 x, no entanto, muito acima das 120 x a área da objetiva não permite a entrada de luz suficiente para dar qualidade às imagens, elas parecerão borradas e escuras.

Como saber o aumento que estou usando?

Divida o valor da distância focal da objetiva pelo valor da distância da ocular, esse valores vêm no manual do telescópio ou impressos próximos à lente. Exemplo: comprei um telescópio que, segundo o manual, tem uma lente objetiva de 80 mm de abertura e 90 cm (900 mm) de distância focal, vou utilizar uma lente ocular de 15 mm de distância focal, então divido 900/15 = 60 vezes de aumento. Perceba que pela abertura da objetiva, posso atingir um aumento máximo com qualidade de até 160 vezes (80 x 2), então, para tirar o máximo de proveito do telescópio, basta usar uma combinação de lentes que se aproxime do valor.

Refletor ou refrator?

Em relação ao tipo de objetiva usada, os telescópios podem ser de dois tipos: refletores e refratores. Os refletores utilizam um espelho parabólico no fundo do tubo (o “corpo” do telescópio), esse espelho, ao ser apontado para o astro a ser observado, reflete sua luz para a lente ocular onde deverá ser visto. 

Alguns refletores usam dois espelhos de modo direcionar onde a imagem deve ser observada. Os refratores (também conhecidos como lunetas astronômicas) utilizam lentes como objetiva, assim a luz do objeto celeste atravessa a lente (fenômeno físico da refração) sendo direcionada ao ponto focal da lente ocular, onde se formará a imagem. A seguir vantagens e desvantagens dos refletores e refratores. Por fim, algumas informações a cerca de alguns tipos de telescópio.

Telescópio Refletor
Esquema de formação de imagens no refletor

Vantagens: Produzem imagens mais nítidas e são bons para a astrofotografia.
Desvantagens: São mais caros, exigem manutenção periódica (limpeza e realinhamento de espelhos), são mais pesados e como o tubo é aberto o ar em seu interior pode interferir na qualidade das imagens, principalmente em noites frias.


Telescópio Refrator
Esquema de formação de imagens no refrator
Vantagens: São mais baratos, exigem pouca ou nenhuma manutenção e, em geral, são menores e de fácil transporte.
Desvantagens: Produzem imagens menos nítidas que os refletores de mesma potência e formação de “bordas” coloridas em volta da imagem devido a uma parte luz que ao se refratar se decompôs nas cores primárias.

Telescópio Refrator de 50 milímetros
Com este simples telescópio já é possível observar estrelas de 9 magnitudes, além de permitir os primeiros estudos topográficos da Lua. Também é possível fazer observações das manchas solares e de suas fáculas (material luminoso que se observa nas imediações da mancha), desde que o instrumento esteja equipado com filtro ou anteparo de observação solar.

A observação de Júpiter também se mostra interessante. É possível perceber o achatamento polar do planeta e ver com facilidade seus quatro principais satélites. A observação de Vênus permite o estudo de suas fases e apontando as lentes para Saturno é possível perceber seus anéis, mas forma minúscula. Marte é uma pequena bolinha, quase sem definição.

Um instrumento de 50 milímetros permite distinguir estrelas duplas com separação de 5 segundos e contemplar alguns aglomerados como as Plêiades, Híades e também a nebulosa de Órion M42.

Telescópio Refrator de 60 milímetros
Este é um típico instrumento popular e apesar da pequena diferença com relação ao modelo anterior, com ele já é possível ver estrelas de 10 magnitudes e resolver sistemas duplos com separação de 3 segundos de arco. Apontando a objetiva para Saturno já é possível ver Titã, seu principal satélite, embora o planeta apareça bem pequeno.

A Lua se mostra ligeiramente mais interessante e suas crateras apresentam mais detalhes do que vistas em um instrumento de 50 milímetros. Detalhes das sombras lunares já chamam a atenção e os relevos das bordas do disco lunar são claramente notados. Não existe muita diferença ao se observar Marte ou Vênus e ambos se parecem como bolinhas arredondadas. Mesmo assim já é possível perceber as fases venusianas.

Telescópio Refrator de 75 milímetros
Um interessante instrumento de baixo custo, mas bem superior aos modelos de 50 e 60 milímetros. Com ele já dá para ver estrelas de 11 magnitudes e separar objetos distanciados por até 2 segundos de arco. Em Marte as calotas polares já são distinguidas como um pequeno ponto branco sobre a borda avermelhada do planeta e já é possível reconhecer a região de Syrtis Magna. Em um telescópio de 75 milímetros Marte ainda se parece com uma pequena bolinha avermelhada.

Júpiter começa a revelar alguns detalhes impossíveis de serem visto com telescópios menores e o ligeiro aumento na objetiva já permite que o observador perceba as faixas equatoriais do gigante gasoso. Em Saturno os detalhes também começam a despontar e a divisão de Cassini em seus anéis também começa a ser vista, se bem que de forma bem tênue. Os quatro satélites, Titã, Réia, Japeto e Tétis finalmente podem ser observados com facilidade e são vistos como pequenos pontos luminosos.

Telescópio Refrator de 102 milímetros
Superior ao modelo anterior permite observar objetos celestes de 11.5 magnitudes e desdobrar estrelas com pouco menos de 1.5 segundo de arco de separação. O instrumento também capacita o astrônomo a detalhar melhor os discos planetários e as sombras das manchas solares. Devido ao maior diâmetro da objetiva os aglomerados estelares se tornam mais nítidos e mais fáceis de serem contemplados.

Telescópio Refrator de 110 milímetros ou Refletor de 114 milímetros
Telescópios ideais para os amadores que já adquiriam experiência com modelos menores. Permitem ver objetos de magnitude 12 e separar sistemas estelares com 1.5 segundo de distância entre suas componentes. Quando em oposição favorável permite até mesmo vislumbrar algumas particularidades topográficas de Marte.

Na Lua, as ranhuras da superfície passam a ser perceptíveis. Em Júpiter, os detalhes das faixas se tornam mais claros e em Saturno é possível reconhecer seu anel sombrio. O aumento da objetiva em relação ao modelo de 95 milímetros revela mais um satélite ao redor de Saturno: Dionéia. A Nebulosa de Lira, muito apagada nos outros instrumentos, ganha vida neste instrumento.

Telescópio Refletor de 150 milímetros
Objetos muito escuros, da ordem de 13 magnitudes passam a ser observáveis. Permite também a identificação de algumas manchas aleatórias nos discos planetários de Mercúrio e Vênus, além do estudo das variações de tonalidades e dos aspectos lunares.

Em Marte é possível perceber as variações que ocorrem nas calotas polares enquanto as faixas de Júpiter são vistas com bastante nitidez. Um telescópio desse porte também permite a separação de estrelas com menos de 0.8 segundos e os aglomerados mais difíceis de serem vistos já apresentam suas feições típicas.

Utilizando uma ocular de aumento médio alguns detalhes de Urano começam a ser visíveis, embora o planeta seja apenas um difuso disco planetário. Isso ajuda a distingui-lo entre o fundo estelar, mas nenhum de seus satélites ainda pode ser visto.

Telescópio Refletor de 200 milímetros
Um excelente instrumento para o amador sério que deseja ampliar seus conhecimentos. O grande diâmetro do espelho capacita o astrônomo a ver os objetos do céu profundo, conhecidos por DSO (Deep Sky objects) com mais de 13.5 magnitudes. Astrofotografias de alta resolução dos planetas e satélites já fornecem resultados de grande qualidade técnica.

Telescópio Refletor de 300 milímetros
Sonho de consumo da grande maioria dos astrônomos amadores, um refletor de 300 milímetros permite com folga as observações dos satélites de Urano e de Tritão, satélite de Netuno, além de poder desdobrar sistemas de 0.4 segundos de arco. Seu grande tamanho permite que objetos de 14 magnitudes possam ser vistos. Mesmo assim, qualquer tentativa de observar Plutão será fadada ao fracasso, uma vez que o planeta-anão tem brilho de apenas 15.1 magnitudes.

Astrofotografias digitais e registros espectrográficos feitos com um telescópio de 300 milímetros dotado de acompanhamento automático permitem o estudo sério de inúmeros detalhes das superfícies e atmosferas dos planetas.


Site de apoio:
http://www.apolo11.com/o_que_ver_com_um_telescopio.php

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- Observando o céu sem telescópio

2 comentários:

  1. queria saber com qual modelo de telescopio, que consigo ver os planetas com nitidez.
    ou qual voces me recomendariam ?

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    1. Olá, desculpe a demora no retorno. Conforme o texto acima, cada caso dever ser analisado conforme o contexto da observação. Se seu desejo é apenas ter o prazer de ver o disco pequeno de alguns planetas, com um telescópio refrator de 80 mm (não está listado acima) pode ver o disco de Vênus, Júpiter (inclusive variações de tonalidade nas faixas equatoriais e seus quatro grandes satélites) e Saturno com seus anéis. Um refletor de 76 mm também lhe proporciona o mesmo, mas exige um pouco mais de cuidados de manutenção, pois como se trata de um tubo oco, partículas de poeira e até a umidade das noites frias podem atrapalhar. Para ver Marte é necessário um telescópio maior, pois o planeta é bem menor e não tão brilhante como Vênus.

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