As Nuvens de Magalhães

10 de julho de 2017



No espaço praticamente todo objeto gira em torno de algo maior, assim como a Lua orbita a Terra, o Sol orbita o denso centro galático. Subindo um nível a mais, nossa galáxia, a Via Láctea, tem alguns satélites. Pelo menos uma dezena de pequenas galáxias de menor massa gira ao redor da nossa, como se reproduzissem nosso Sistema Solar, porém numa escala milhares de vezes maior. Dentre os satélites "via-lácteos", dois ganham destaque pela proximidade, pelo nome e por ser possível observá-los olho nu, são as Nuvens de Magalhães.

A descoberta das Nuvens ocorreu no século XVI, ao final do ano de 1.520, quando o explorador português Fernão de Magalhães na primeira viagem de circum-navegação da Terra aventurou-se por águas austrais como ninguém tinha feito antes. Ao cruzar um estreito, hoje conhecido como Estreito de Magalhães, e entrar no Oceano Pacífico, contornando o extremo sul da Argentina, o navegador observou duas pequenas névoas no céu noturno. Embora o relato mais antigo de observação das Nuvens seja do astrônomo persa Al Sufi em 964, foi Fernão que levou a primazia por registrar em seus apontamentos de viagem.

Durante séculos as Nuvens de Magalhães mantiveram o status de nebulosas, bem como a galáxia de Andrômeda. Apenas no século XX, mais precisamente em 1.923, os estudos de Edwin Hubble observando cefeidas em Andrômeda mostraram que tais nuvens estavam a uma distância muito maior que as dimensões conhecidas da Via Láctea, indicando que na realidade estavam fora desta, ou seja, eram outras galáxias.

ESTRUTURA

A Grande Nuvem de Magalhães (GNM) está a uma distância de 163 mil anos-luz da Via Láctea, enquanto a Pequena Nuvem de Magalhães (PNM) está mais longe, cerca de 200 mil anos-luz. Ambas são do tipo irregulares, ou seja, não tem forma definida, embora acredita-se que a Grande Nuvem já tenha sido uma galáxia espiral, mas que se rompeu e perdeu sua estrutura ao interagir gravitacionalmente com a nossa.

O diâmetro da GNM tem cerca de 14 mil anos-luz e é a terceira galáxia mais próxima da nossa galáxia, situa-se entre as constelações de Dourado e Mesa. A PNM tem 7 mil anos-luz de comprimento e se localiza na direção da constelação do Tucano e por ser muito pequena, acredita-se que tenha menos que 4 bilhões de estrelas. Assim como a Grande, a Pequena Nuvem também mantém uma estrutura que indica já ter sido uma espiral.

Recentemente foi observado uma ponte de estrelas e gás que liga as duas Nuvens, embora a mais de uma década isso já era teorizado, apenas com o resultado do Observatório Especial Gaia da ESA, foi possível confirmar.
A "ponte de estrelas" entre as Nuvens


A origem desta ponte pode estar numa aproximação incomum entre as Nuvens ocorrida a cerca de 200 milhões de anos, onde estrelas e gás hidrogênio foram "arrancados" da PNM e com a atração gravitacional da Via Láctea a ponte de estabilizou.

ESTUDO

As Nuvens de Magalhães estão entre os objetos mais distantes que podem ser vistos a olho nu. A Grande tem um ângulo visual de cerca de 10°, ou seja, 20 vezes maior que a Lua, mas com uma magnitude aparente de 0,9. A Pequena com 3° de diâmetro (6 vezes a Lua) e magnitude 2,7. Apesar disso, para observá-las é necessário um céu escuro e limpo, sem a Lua, luzes artificiais e poluição.

As Nuvens são considerados verdadeiros laboratórios para estudos acerca da formação estelar e seu ciclo vital, bem como outros fenômenos. Devido à proximidade e por estarmos observando "do lado de fora" fica mais fácil constatar, medir e comprovar as teorias. A Grande Nuvem é um grande berçário de estrelas, nela temos dezenas de aglomerados globulares e abertos, além de centenas de nebulosas planetárias. A famosa Nebulosa da Tarântula situa-se nesta nuvem, trata-se da região de formação estelar mais ativa no Grupo Local de galáxias.
Nebulosa da Tarântula

Em 1.987 ocorreu uma explosão de supernova (SN 1987A) na GNM, foi a mais próxima desde 1.604. A luz chegou na Terra em 23 de fevereiro e atingiu o pico em maio alcançando magnitude aparente de 3, sendo visível em todo hemisfério sul. Sua estrela progenitora foi uma supergigante azul, fato até então surpreendente, pois o conhecimento da época não previa que as supergigantes azuis produzissem supernovas.
Restos da SN 1.987A, na Grande Nuvem
Aqui temos uma sequência de imagens produzidas pelo Telescópio Espacial Hubble e pelo VLT (Very Large Telescope) que mostram o período de 1.994 a 2.009, quando a supernova colide com um anel material denso ejetado milhares de anos antes da explosão.


MAIS IMAGENS

Grande Nuvem de Magalhães

Estrelas jovens na Pequena Nuvem de Magalhães

Remanescentes da SN 1.987A na GNM

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A Terra vista da Estação Espacial Internacional