Astronomia na Antiguidade I: Médio Oriente, Índia e China

21 de agosto de 2016

Agora, neste artigo, você vai ficar conhecendo como a Astronomia se desenvolveu num período da História, a Idade Antiga.

Mas antes de aprofundarmos nossa conversa de como se apresentou a Astronomia no Período Antigo vamos nos situar um pouco no tempo. De acordo com a visão tradicional, a História está dividida em Pré-história na qual estão inseridos o Período Paleolítico, o Neolítico e a Idade dos Metais e História propriamente dita em que estão Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Nossa "fatia do bolo" está na Idade Antiga que começa a ser contada a partir do desenvolvimento da escrita, pelos sumérios, por volta de 4.000 anos a.C. até a queda do Império Romano do Ocidente em 476 da era cristã.

Pode-se dizer que a Astronomia é a Ciência mais antiga de todas. Desde sempre, povos olharam para o céu tentando desvendar alguma mensagem, sinais trazendo respostas a perguntas que até hoje provocam intrigas como por exemplo, por que existimos, como surgimos... Durante certo tempo tudo o que acontecia fora dos padrões observacionais era tido como prenúncio, geralmente ligados a fatos ruins. Acompanhem-me e saberemos como os povos da antiguidade interpretavam os fenômenos celestes e como configuravam o cosmos.


MESOPOTÂMIA

Mapa da Mesopotâmia até I milênio a.C.
A Mesopotâmia (que significa terra entre rios, pois estava localizada entre os rios Tigre e Eufrates) era um território em que se instalaram povos de várias origens e posteriormente se organizaram em impérios poderosos. Hoje, boa parte desta região pertence ao território do Iraque. Os sumérios, babilônios, caldeus e assírios foram os povos que formaram vários impérios por toda região da Mesopotâmia. Vamos agora conhecer como os sumérios e os babilônios se posicionaram diante do conhecimento e da Astronomia.


Sumérios

A Suméria é a civilização mais antiga que se tem registro, os sumérios ou sumerianos vieram de muito lugares e se estabeleceram na região que fica no baixo vale do rio Eufrates. Eridu, Ur e Lagash foram regiões onde eles se fixaram formando as primeiras cidades, sendo esta última um território em que escavações arqueológicas revelaram ser uma das culturas mais criativas do tempo antigo.

Durante o quarto milênio antes de Cristo, os sumérios fizeram florescer uma brilhante civilização e é creditado a eles o título de país da Astronomia que por sua vez era notavelmente avançada. Esta civilização obteve cálculos do ciclo lunar que diferem apenas 0,4 segundos dos cálculos atuais.

Os sumérios deixaram de ser vistos por volta do ano 2.000 antes de Cristo deixando aos assírios os princípios da sua arte e mitologia.


Babilônios

A história dos babilônios se mistura com a dos sumérios e caldeus e há dúvidas quanto ao começo e o fim desta civilização. Muito do que os babilônios desenvolveram relacionados a ciência e a educação, como Astronomia, tem origens na ciência desenvolvida pelos sumérios. 

Os babilônios usavam bastante a escrita cuneiforme (símbolos em forma de cunha) fazendo dela uma arma para desbravar a Astronomia. Esta escrita que em seus primórdios identificava principalmente objetos físicos foi evoluindo ao longo da história, adicionando-se novos símbolos abstratos.
                         
  Sistema de escrita cuneiforme utilizada 
                                      pelos babilônios


Na matemática, os babilônios utilizavam o sistema binário (sistema de base 2) e hexadecimal (sistema de base 16), também utilizavam um sistema de contagem de base 60 e isso se verifica na divisão do círculo em 360 graus. E não diferente na divisão das horas, eles utilizaram intervalos sexagesimais, 60 segundos em um minuto e 60 minutos em uma hora. Este povo apresentava-se muito hábil nos cálculos, criaram tabelas de multiplicação e posicionaram regras aritméticas.

Esquema do Universo babilônicoHá quatro milênios atrás os babilônios já tinha um conhecimento apurado sobre Astronomia. Eles registravam fenômenos como eclipses e posições dos planetas, estes registros seriam destinados a profetizar a prosperidade do império. O desenvolvimento da aritmética pelos babilônios ajudou a prever os movimentos aparente da Lua, das estrelas, dos planetas e do Sol.


O Universo segundo os babilônios


O povo babilônico imaginava o Universo da seguinte forma: a Terra seria um um grandioso plano com forma circular em que ficava acima de uma câmara de água, um rio ao redor circundando. Em volta da Terra tinha parede que sustentava todos os corpos celestes localizados em uma cúpula.


EGÍPCIOS

O povo do Egito foi contemporâneo aos povos que habitaram a Mesopotâmia. Os egípcios, assim como os mesopotâmicos, desenvolveram-se na arte, literatura, arquitetura e em algumas ciências, como medicina e matemática. No papiro de Rhind feito por volta do ano 1.650 a.C pelos egípcios contém de números 1/n (sendo n = 3, 5, 7,..., 101), possui também dezenas de exercícios matemáticos acompanhados de soluções.

A Astronomia não foi alvo de grande interesse pelos egípcios assim como foi para os babilônios, tanto que só aparece melhor registrada em um documento datado de 300 a.C, muito tarde, levando em consideração que a primeira dinastia começou por volta de 3.100 a.C.

Na base da estátua de Harkhebi está gravado um documento astronômico confirmando ser "tudo observável no céu e na Terra". Assim como os babilônicos, A astronomia dos egípcios estava ligada crenças religiosas. Os corpos celestes eram suas divindades.


INDIANOS

As principais descrições da Astronomia na Índia antiga estão nos textos védicos, veja suas características mais importantes:

 Estátua de Shiva
  • O Universo é grande cíclico e extremamente velho: fala-se em um universo infinito em que passa por ciclos de criação e destruição sendo esses ciclos de 2 bilhões de anos considerados. Os puranas fala-se em ciclos de 8,4 bilhões de anos. A unidade de medida usada era a kalpa (um dia na vida de Brahma) que equivale a 4,32 bilhões de anos, o final de cada kalpa, realizado pela dança de Shiva, era o recomeço de uma nova. Na mão direita de Shiva, como ele é representado, tem um tambor anunciando a criação e na mão esquerda uma chama que destruirá o universo.                                                                                              
  • Um mundo atômico: refere-se a doutrina Kanada que falava da existência de nove classes de substâncias: éter, espaço e tempo que são contínuas; as quatro substâncias elementares, terra, água, ar e fogo que são atômicas e dois tipos de mentes uma onipresente e outra que é o indivíduo.
  • Relatividade do espaço e do tempo: mostra que nem o espaço e nem o tempo precisam fluir à mesma taxa para observadores diferentes.
  • Números binários e o infinito: acredita-se que Pingula, um antigo matemático, utilizou um sistema de números binários, o que pode ter ajudado na invenção da forma gráfica que distingue o zero. Sem o zero a matemática teria significativas dificuldades em seu desenvolvimento. O sentido de infinito é encontrada nos Vedas como sendo aquilo que permanece inalterado quando adicionamos ou subtraímos algo dele.
Os hindus tinham um conceito de Universo em que o Monte Meru (a Terra) e as regiões infernais eram transportadas por uma tartaruga, por sua vez a tartaruga pousava sobre uma serpente que significava o emblema da eternidade. Havia três mundos, o superior era a residência dos deuses, a intermediária era a Terra e a inferior era a região infernal. O Monte Meru cobria e unia os três mundos e em seu topo estava o triângulo, símbolo da criação.


Um dos conceitos hindus sobre o Universo



Muitas ideias e inovações surgiram na Índia anteriormente a época científica da Grécia, no entanto historiadores não conseguiram demonstrar estas inovações desassociadas das que a Grécia introduziram. A era de maior produtividade astronômica da Índia aconteceu provavelmente no meio do terceiro século até o sétimo século e durante esse tempo viveram dois principais astrônomos indianos Aryabhata e Brahmagupta. Aryabhata foi o primeiro a usar a álgebra na Astronomia, pois acreditava que a partir dela seria capaz de explicar toda mecânica celeste e Brahmagupta foi matemático e astrônomo, apoiou as teorias planetárias de Aryabhata, pois também acreditava que haviam evidências suficientes para provar que a Terra girava.


CHINESES

A civilização chinesa, entre as civilizações antigas, foi uma das primeiras a se preocupar com a Astronomia. O mais antigo mapa estelar que se conhece foram estabelecidos pelos chineses Shi Shen, Gan De e Wu Xian, eles mapearam as estrelas no céu e determinaram algumas constelações. O cientista Su Song projetou o mapa estelar polar sul, feita para globo celeste.


Mapa estelar mais antigo feito pelos chineses





Mapa estelar polar sul feito pelos  chineses
Na cultura chinesa há um mito sobre a criação, que diz que no começo, o céu e a terra estavam unidos sob a forma de uma nebulosidade em formato de um ovo. Segundo este mito o primeiro homem sobre a Terra foi Pangu que separou o céu e a terra, e há quem diga que o material utilizado por ele foi um machado, outros que ele fez isso crescendo cada vez mais até que os dois foram obrigatoriamente divididos. E em todos dois casos a parte mais leve dirigiu-se para cima (o firmamento) e a porção mais pesada na parte de baixo (a terra). Quando Pangu morreu as partes de seu corpo foram transformadas, sua cabeça se tornou as montanhas, seus olhos o Sol e a Lua, suas artérias e veias os mares e os rios e seu cabelo e pele as plantas e os vegetais. E os outros restos mortais de Pangu diz-se terem sido enterrados em algum lugar em uma montanha na província de Guangdong.

Quanto a orientação física do Universo, os chineses, inicialmente estabeleceram três modelos: Gai Tian, que colocava o firmamento em forma de domo. Ele colocava o que é a Ursa Maior no centro do domo celeste e a China ficava no centro da Terra. Hun Tian, era a escola que previa um firmamento esférico semelhante ao ovo de galinha em que a Terra é como a gema. O firmamento era mantido suspenso por um vapor chamado de "qi". Esta teoria foi importante, pois conduziu avanços tecnológicos na Astronomia como a construção de esferas e anéis armilares. Xuan Ye, dizia que o universo era infinito e os corpos celestes estavam suspensos nele.

Quase todas as interpretações dos chineses sobre o firmamento se baseavam em um vento ou vapor celestial que sustentava os corpos celestiais. Este vento mantinha suspensas as estrelas fixas no céu, produzia o movimento para atrás do Sol, da Lua, dos cinco planetas visíveis e das estrelas. Além disso, os chineses percebiam o céu arredondado com nove níveis separados entre si por um portão e guardado por um animal particular. O nível mais alto era o "Palácio da Tenuidade Púrpura", onde o Imperador do Céu vivia e que hoje chamamos de Ursa Major.

No centro do céu estavam o Polo Norte e a Estrela Polar, os chineses consideravam que era o ponto geográfico mais importante por acreditarem ser o ponto mais próximo do firmamento. Também acreditavam que o coração da civilização estava no centro da Terra e quanto mais ia se afastando do centro os seus habitantes se tornavam cada vez mais selvagens.

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